A polémica entre a equipa do "Sexta às 9" e a diretora de informação da RTP, Maria Flor Pedroso continua a dar que falar. Este fim de semana, nas redes sociais, foi lançada uma petição online onde é exigida "a demissão imediata da Direcção de Informação da RTP".

"Face à extrema gravidade dos factos que vieram a público e que claramente revelam parcialidade e manipulação desta informação que se pretende totalmente isenta, nós, cidadãos portugueses, exigimos a demissão imediata da Direcção de Informação da RTP e a sua substituição por uma Direcção independente e representativa de uma visão nova do papel que o jornalismo desempenha numa sociedade que se quer democrática", sublinham os criadores da petição.

Na semana passada, a jornalista da RTP Sandra Felgueiras acusou a diretora de informação de ter passado "informação interna e sensível" ao instituto ISCEM que estava a ser investigado pelo "Sexta às 9", algo que Maria Flor Pedroso desmentiu.

De acordo com as atas da reunião Conselho de Redação (CR) da televisão da RTP, datada de 11 de dezembro, a que a Lusa teve acesso, após os esclarecimentos prestados aos membros eleitos do órgão sobre a reportagem do lítio, a jornalista e coordenadora do "Sexta às 9", Sandra Felgueiras, revelou "outro episódio com que a equipa do programa se defrontou".

A jornalista referiu que na reunião de 3 de outubro deu conta à diretora de informação de que estaria a investigar suspeitas de corrupção no âmbito do processo de encerramento do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), que passava pelo alegado recebimento indevido de "dinheiro vivo" e que deu a Maria Flor Pedroso e à diretora-adjunta, Cândida Pinto, detalhes da investigação.

No dia 8 de outubro, a diretora do ISCEM terá contactado a jornalista "para dizer que tinha falado" com a diretora de informação, "que lhe teria transmitido que a investigação do programa ‘Sexta às 9’ passava pela suspeita de recebimento indevido de ‘dinheiro vivo’ e que, por recomendação da mesma, só iria responder às perguntas do programa (...) por escrito".

Na reunião do CR, Sandra Felgueiras "acusou a diretora de informação de violação dos deveres funcionais e de violação do dever de sigilo, ao transmitir para a principal visada na reportagem informação privilegiada", algo que Maria Flor Pedroso "rejeitou liminarmente", questionando a jornalista sobre a razão pela qual “reteve esta informação até ao dia 11 de dezembro quando já a conhecia desde 8 de outubro".

Entretanto, "Sandra Felgueiras respondeu que apenas soube no dia 3 de dezembro, quando saiu das audições na Assembleia da República, que a investigação não se iria realizar, uma vez que Ana Raquel Leitão tinha recebido um 'email' do arquiteto [a quem a diretora do ISCEM devia dinheiro] a revogar o direito de entrevista, pois a dívida da diretora do ISCEM [dois milhões de euros] já teria sido saldada", lê-se na ata.

"Neste momento, a diretora de informação e a coordenadora do programa 'Sexta às 9' envolveram-se numa discussão acesa, sendo praticamente impossível reproduzir com fiabilidade tudo o que foi referido", refere a ata.

Maria Flor Pedroso "explicou ao CR que deu aulas de jornalismo radiofónico durante oito anos no instituto e que não divulgou nenhuma investigação" e justificou que "questionou na secretaria" do ISCEM "se estava a ser exigido aos alunos que pagassem os emolumentos em 'dinheiro' vivo e que nesse dia encontrou Regina Moreira".

Acrescentou que a diretora do instituto disse que tinha sido contactada pelo programa e que não iria dar entrevista.

Ao Conselho de Redação, Maria Flor Pedroso explicou que "apenas lhe disse para responder por escrito para que o programa não perdesse toda a história", recusando qualquer acusação de ter divulgado pormenores da investigação.

Sobre o facto de Cândida Pinto se ter dirigido à jornalista Ana Raquel Leitão para lhe dizer que "alguém lhe disse" que o ISCEM não tinha multibanco, pelo que a investigação "poderia não ter pernas para andar", já que essa poderia ser explicação para os alunos estarem a pagar os emolumentos em dinheiro, a diretora de informação disse que tinha sido a própria a transmitir a informação à diretora adjunta.

Flor Pedroso "acabou por pedir desculpas à equipa, mas frisou que apenas tentou ajudar, uma vez que tinha acesso a fontes não alcançáveis pelos jornalistas da equipa", lê-se no documento.

Na reunião, "a jornalista Sandra Felgueiras e a diretora de informação, Maria Flor Pedroso, referiram (...) que são muito resilientes e não se vão demitir".