As opiniões recolhidas pela realizadora Graça Castanheira são heterogéneas, mas convergem num mesmo sentido: «o estilo de vida da sociedade moderna não vai perdurar nos próximos tempos», indica.

O ponto de partida para as onze conversas é a reflexão sobre o mundo e o futuro. «Qualquer pessoa permeável à realidade tem esta inquietação coletiva. Estamos num período de grande mudança, uma espécie de vórtice que está a mexer num conjunto de valores tidos por adquiridos e imutáveis ao longo das últimas gerações», explica a realizadora Graça Castanheira ao SAPO TV.

Eduardo Galeano (jornalista e escritor uruguaio), Laurie Anderson (artista norte-americana), Lucrecia Martel (realizadora argentina), Gonçalo M. Tavares (escritor português), Suad Amiry (arquiteta palestina), Karen Armstrong (autora de livros sobre religiões comparadas), Esther Duflo (economista francesa), Martin Jacques (académico britânico), Vandana Shiva (física indiana), Braden Allenby (cientista do ambiente norte-americano) e Lula da Silva (ex-presidente do Brasil) são os protagonistas do documentário.

«São pessoas de quem eu gosto, à partida, e em cuja obra me revejo, mesmo não concordando na totalidade. São pessoas particularmente inteligentes e têm uma visão crítica relativamente à contemporaneidade», justifica Graça Castanheira.

De diferentes quadrantes e de geografias distintas, as opiniões proferidas pelos convidados são «heterogéneas» mas «convergentes» em relação às diferentes áreas de conhecimento a que pertencem.

«Um cientista norte-americano [Braden Allenby] que lida diariamente com tecnologias e o seu impacto nos sistemas terrestres, tem uma leitura diferente de uma senhora ativista na Índia [Vandana Shiva] que luta contra a compra das patentes de arroz por parte de grandes multinacionais», refere.

A mensagem principal que Graça Castanheira crê poder retirar-se da visualização das onze entrevistas aponta para o desconhecido.
«O futuro desta civilização é incerto. O eixo económico está a mudar da Europa e dos Estados Unidos da América para o Oriente e isso vai ter consequências nas nossas vidas», afirma.

Graça Castanheira deslocou-se aos vários locais de entrevista, pensados e desenhados com vista a proporcionar um «momento de paz» para o entrevistado.

«Montámos um estúdio com uma luz não agressiva e num espaço de silêncio para se poder conversar e pensar. Até tivemos preocupação com as câmaras, que estavam perdidas na escuridão e longe dos entrevistados», realça.

«O Tempo e o Modo» foi o título escolhido para o programa, numa referência a uma revista fundada por João Bénard da Costa e por uma série de católicos progressistas, em 1963.

O conjunto das onze entrevistas está a ser transmitido pela RTP2, todas as quintas-feiras, pelas 23:30, até ao dia 12 de julho.

A realizadora gostava de produzir uma segunda série apenas com personalidades portuguesas. Fernando Quintanilha, Adília Lopes ou Filomena Molder figuram na sua lista.