Um livro que reúne textos diversificados de Madalena de Azeredo Perdigão, em grande parte inéditos ou de muito difícil acesso, que refletem a marca que a autora deixou na evolução das artes performativas, é hoje publicado.

“Vamos correr riscos. Textos Escolhidos de Madalena de Azeredo de Perdigão” é o título desta obra, editada pela Tinta-da-China em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, que inclui o "Manifesto ACARTE", textos com a sua visão estratégica sobre a descentralização dos Festivais Gulbenkian, sobre a acessibilidade da cultura e a inclusão, entre outros documentos, que ajudarão a conhecer melhor o seu legado.

Segundo a editora, são documentos de natureza muito diversificada, “que traduzem de forma emblemática o seu pensamento e as suas referências, ao mesmo tempo que ilustram os passos fundamentais da sua carreira", que não só passa pela criação do Serviço de Música da Gulbenkian, com a sua orquestra e coro, à direção do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) desta instituição, mas que também inclui a participação na reforma e promoção do ensino artístico, no contexto do Ministério da Educação, no pós-25 de Abril.

Madalena de Azeredo Perdigão (1923‑1989) “não era propriamente uma ensaísta para quem a reflexão, por si mesma, fosse um objetivo, e a sua escrita está sempre ligada ao combate no terreno pelas causas em que acreditava”.

“As suas ideias estão, assim, essencialmente plasmadas nas propostas das atividades que desencadeou, nos projetos de lei que coordenou, e em artigos de opinião e entrevistas ocasionais que têm quase sempre uma perspetiva de aplicação prática imediata”, acrescenta a editora.

Esta edição é acrescida de notas de enquadramento dos textos no tempo e circunstâncias em que foram produzidos, acompanhadas de um suporte iconográfico.

“Fica assim bem patente a marca profunda que a sua autora deixou em toda a evolução das artes performativas — e, em geral, no panorama de fundo da vida cultural e artística — em Portugal desde a viragem para a década de 1960, com um impacto que ultrapassou em muito a data da sua morte e que em numerosos aspetos se projeta ainda nos nossos dias”, destaca a Tinta-da-China.

A publicação desta obra enquadra-se num contexto maior de celebração do centenário de Madalena de Azeredo Perdigão, que inclui uma exposição biográfica e retrospetiva, patente no átrio da Biblioteca de Arte e Arquivos da Fundação Calouste Gulbenkian, até 20 de julho.

Esta mostra acompanha a vida e trabalho desenvolvidos por Madalena Perdigão, nomeadamente a criação do Grupo Experimental de Ballet do Centro Português de Bailado, a Orquestra de Câmara Gulbenkian, mais tarde Orquestra Gulbenkian, o Coro Gulbenkian e o Grupo Gulbenkian de Bailado, mais tarde Ballet Gulbenkian.

Foi ainda diretora do ACARTE da Gulbenkian, no âmbito do qual lançou os Encontros ACARTE, que trouxeram pela primeira vez a Portugal grandes criadores de referência das artes do espetáculo contemporâneo.

A mostra, tal como o livro, revela a importância de Madalena de Azeredo Perdigão no serviço de música, na área educativa e na afirmação das mulheres, bem como o papel determinante que desempenhou na reestruturação do ensino artístico em Portugal.

A exposição tem como comissário o musicólogo Rui Vieira Nery e como comissária adjunta a também musicóloga Inês Thomas Almeida, que são igualmente os coordenadores do livro.

As notas e o prefácio são assinados por Rui Vieira Nery.