“Isto é um ‘workshop’ de teatro, apesar de se brincar com o género e a identidade e aquelas ‘vozes’ que nos dizem quem devemos ser, porque nos ensinaram que era assim que devíamos ser, mas e o que somos?”, questionou Fernando Giestas.

Em declarações à agência Lusa, Fernando Giestas disse que este ‘workshop’ tem “como objetivo direcionar as artistas para estados de presença em que se percebam mais honestas e mais permeáveis, tentando dissolver barreiras”.

“Barreiras entre o eu pessoal, enquanto ser, enquanto pessoa, e o eu performático, o eu enquanto artista, enquanto ator ou atriz, enquanto intérprete, porque aos olhos dos outros somos sempre alguma coisa e no palco?”, acrescentou.

Gaya de Medeiros, uma artista transgénero que nasceu em Belo Horizonte, no Brasil, orientará o ‘workshop’ que decorrerá em 16 e 17 de março, na sede da companhia Amarelo Silvestre, em Canas de Senhorim, Nelas, distrito de Viseu.

E na semana seguinte, no dia 23, a Amarelo Silvestre acolhe um outro ‘workshop’, "AND Todes", um programa de introdução e multiplicação de acessos ao Modo Operativo AND, destinado a todos os públicos, idealmente para maiores de 15 anos, orientado por Fernanda Eugénio, artista, antropóloga, investigadora, educadora, coordenadora e curadora do projeto.

“O 'AND Todes' é um programa voltado a promover a inclusão, a multiplicação do acesso e a multiplicidade de interlocuções do modo operativo AND. Com diferentes linhas disparadoras - para pessoas com deficiências; para crianças, jovens e seniores; para comunidades periféricas; para mediadores e famílias; para diferentes geografias e regiões”, descreveu.

Dois ‘workshops’ que, no entender do codiretor artístico da Amarelo Silvestre, “obrigam a parar, a ver, a escutar, a refletir, no fundo a reparar e reparar nos vários sentidos da palavra, tanto o parar duas vezes como o consertar ou ver com mais atenção”.

“Nós hoje não escutamos. Não escutamos os outros, não olhamos para eles e ouvimos o que têm a dizer, até já temos respostas sobre eles, porque nos disseram que as pessoas são assim”, indicou.

O mesmo acontece com os espaços, continuou Fernando Giestas, que disse que “ninguém ouve o que eles têm a dizer e a forma como comunicam com a comunidade e depois acontecem atrocidades urbanísticas, porque ninguém reparou” no que existia.

Fernando Giestas, que se licenciou em jornalismo e exerceu a profissão entre 2002 e 2006, defendeu que “hoje, quando se levantam questões já se sabe a resposta, é, muitas vezes, para obrigar a uma determinada resposta”.

E, continuou, “é preciso tempo, já ninguém escuta, ninguém pergunta e aguarda com tempo uma resposta, já não se deixa uma pergunta no ar para ser pensada e refletida, porque é tudo no imediato, mas claro que é bom questionar e haver quem questione”.

“O que se está a passar na comunicação social hoje, com o futuro de alguns meios em causa, é preocupante. Se o jornalismo morre, morremos nós. E haver jornalistas por perto é sempre melhor, porque um jornalista é alguém que pergunta e haver pessoas que perguntam por perto é um consolo”, disse.

Estes dois ‘workshops’ de março na Amarelo Silvestre, disse, “também questionam, mas também tencionam obrigar a escutar, a refletir e a reparar” em cada um dos participantes “e no outro e no espaço e na liberdade de cada um”.