Cerca das 12h00, dois jovens do grupo ambientalista cobriram de tinta a obra "Femme dans un fauteuil (métamorphose)" (1929), de Pablo Picasso, em exibição no museu do CCB, em Belém, peça da Coleção Berardo na exposição permanente, e colaram-se à parede, segundo um comunicado do grupo.

"A obra não sofreu danos porque estava totalmente protegida com um acrílico", assegurou Delfim Sardo, vogal do conselho de administração do CCB, contactado pela agência Lusa sobre a ação, que também não deixou estragos no museu, a não ser a tinta derramada.

No comunicado, os ativistas escreveram: "Quando soldados alemães entraram no estúdio de Picasso em Paris, onde vivia durante a II Guerra Mundial, e viram o ‘Guernica’ (a famosa obra-prima que retrata os horrores da guerra), perguntaram-lhe “fizeste isto?”. Ele respondeu ‘não, tu fizeste isto’. As instituições culpadas pelo colapso climático declararam guerra às pessoas e planeta. Temos de parar de aceitar esta normalidade".

De acordo com Delfim Sardo, os jovens, que aproveitaram um momento em que a sala se encontrava sem visitantes, foram detidos pela PSP.

"Além da tinta no acrílico [que cobre a pintura] e alguns pingos na moldura e no chão, não houve qualquer estrago. Tudo isso vai ser limpo. A nossa principal preocupação eram os danos na obra de Picasso", disse Sardo, sobre a obra do autor nascido em Málaga, Espanha, em 1881 e um dos mais importantes artistas do século passado.

Os jovens mantiveram-se calmos na sala até chegar a polícia, que os deteve, segundo o administrador do CCB, que irá apresentar queixa às autoridades sobre esta ação ativista ambiental, a primeira, em Portugal, dirigida ao património artístico.

Questionado sobre se o CCB vai reforçar a segurança no museu, na sequência do incidente, Delfim Sardo disse que irá realizar uma reunião para apurar a necessidade de implementar novas medidas: "Estou convicto que as medidas existentes são suficientes, mas vamos reavaliar".

Quanto ao quadro alvo da tinta vermelha, "vai ser limpo e voltará ao seu lugar no percurso expositivo" do museu, acrescentou.

No comunicado, o grupo ambientalista Climáximo disse que se está a viver uma "falsa sensação de paz" e culpa sobretudo os governos e as empresas petrolíferas pela inação: "Vivemos uma normalidade em que os governos e empresas emissoras já nos estão a matar às centenas de milhar todos os anos com a crise climática, de acordo com a ONU. Temos de, conjuntamente enquanto sociedade, parar esta guerra", escreve Leonor Canadas, porta-voz do coletivo.

"Em termos práticos, há que colocar um fim aos planos de novos aeroportos e expansão do gás em Portugal, parar os projetos da GALP no sul global, e fazer quem criou esta guerra pagar uma transição energética justa", defendem.

Desde o ano passado que vários grupos ativistas pelo clima têm realizado, em museus e monumentos europeus, ações semelhantes à de hoje no MAC/CCB - inédita em Portugal com obras de arte como alvo - nomeadamente com cola atirada ao quadro “O Grito”, de Edvard Munch, no Museu Nacional de Oslo, ou a pintura “Morte e Vida” de Gustav Klimt (1862-1918), no Museu Leopold, em Viena, na Áustria.

Nos últimos meses, o grupo de protesto Última Geração realizou diversos ataques a obras de arte e edifícios históricos em toda a Itália, nomeadamente com o derrame de tinta preta na histórica fonte de Barcaccia do século XVII, na Escadaria Espanhola de Roma, e atiraram tinta branca para a fachada do Teatro La Scala de Milão.

Dois ativistas do grupo estão a ser julgados no Tribunal do Vaticano por terem danificado com cola, durante um protesto, a base da escultura “Laocoonte e os seus Filhos”, descoberta numa escavação em Roma em 1506.

Após as primeiras ações contra obras de arte em museus, no ano passado, vários museus nacionais públicos e privados contactados pela agência Lusa disseram estar a reforçar as medidas de segurança para proteger os acervos expostos ao público.