"A violência contra as mulheres não é arte nem cultura", lê-se na carta aberta divulgada hoje - Dia Mundial da Música - e assinada por associações de defesa dos direitos das mulheres e, a título individual, por dezenas de pessoas, entre artistas, psicólogos, jornalistas, professores, estudantes e técnicos.

Os autores da carta aberta sublinham que "a reprodução clara de misoginia e a banalização da violência contra as mulheres não podem ser cronicamente escudadas na criação artística".

Em causa está a canção "B.F.F", do rapper Valete, que aborda uma cena de violência conjugal, com o vídeo a mostrar um homem armado a ameaçar violentamente a mulher.

No canal oficial de Valete no Youtube, o vídeo soma mais de 900 mil visualizações e motivou críticas nas redes sociais e na comunicação social.

Na carta aberta, os assinantes escrevem que "a violência masculina contra as mulheres e as raparigas não existe num vácuo: ela nasce e perpetua-se num ambiente social de banalização da violência, cresce e legitima-se num contexto cultural que promove uma masculinidade agressiva, conjugada com o escrutínio da sexualidade das mulheres".

Os autores dizem-se "conscientes de que a liberdade de expressão não significa imunidade à crítica e que a criação artística – sobretudo quando atinge um público jovem como é o caso de Valete – não é isenta de impacto (e por isso mesmo, responsabilidade) social".

E pedem ao rapper que "considere o alcance e as repercussões da sua mensagem, e repense a estratégia, o conteúdo e o alcance do vídeo referido".

A carta é assinada por, entre outras, a Associação de Mulheres Cabo-verdianas na Diáspora em Portugal, a Associação Mulheres sem Fronteiras e a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas.

Por causa do mesmo vídeo de Valete, a organização Feministas em Movimento (FEM) lançou uma petição pública, que hoje soma cerca de 300 assinaturas, apelando "a que todos os coletivos de intervenção feminista, às organizações de intervenção social, aos partidos políticos e a todas as pessoas que digam não à violência".

"Neste contexto, em que a violência contra as mulheres se encontra naturalizada, nenhum esforço ou ação no sentido de a erradicar é supérfluo, mas todos os atos ou acontecimentos que a banalizem têm de ser denunciados, contraditados e condenados!", exclama o FEM no texto que lança a petição pública.

A agência Lusa tentou hoje, sem sucesso, obter um esclarecimento do rapper Valete à carta aberta e à petição pública.

Na semana passada, a jornalista Fernanda Câncio, que entrevistou Valete para o Diário de Notícias sobre o tema “BFF”, revelou, no blogue Jugular, ter recebido mensagens do músico: “Valete aconselhava-me a 'conter-me' no Twitter onde, acusava, eu estava 'numa intifada anti-Valete'. E terminava dizendo: 'garanto-te que não queres comprar esta guerra.'”

Ao Observador, no dia seguinte, Valete confirmou o envio das mensagens, mas rejeitou que contivessem uma ameaça de violência física, dizendo que a “guerra” a que se referia era verbal.

No canal do Youtube, o rapper divulgou um vídeo no qual critica "um grupo de feministas burguesas, pessoal ignorante, pessoal que não respeita o rap [...]", dizendo que vem de uma realidade em que "as mulheres são escuras demais para terem empregos que não seja limpeza" e que vivem "em sub-culturas onde a violência doméstica está completamente normalizada".

"Eu nunca vi nenhuma dessas feministas 'pop star' aqui nos subúrbios a travar luta feminista com estas mulheres que são praticamente escravas em 2019", disse Valete nesse vídeo.

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