Em declarações à agência Lusa, durante a apresentação da digressão que o traz de volta a Portugal, o cantor, cujas três primeiras atuações em território português foram ainda durante a ditadura do Estado Novo, indicou que Portugal "floresceu depois do 25 de Abril".

Ao lado da cantora Teresa Cristina, com quem partilha o palco nesta digressão intitulada "Caetano apresenta Teresa", que em Portugal inicia no Coliseu do Porto, com dois concertos, hoje à noite e na quarta-feira, o músico confidenciou que pressentiu a queda do regime ao ouvir a canção "Milho Verde", de Zeca Afonso.

O músico, que começou o seu percurso musical a cantar com a irmã Maria Bethânia, compôs canções como "Sozinho", "Leãozinho", "Você é linda", "Sampa" e "Alegria, Alegria", temas que apresentará nesta digressão.

O espetáculo, no formato voz e violão, é semelhante ao apresentado em setembro do ano passado, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, embora o seu repertório possa mudar nos diferentes concertos.

"Eu estou sozinho com o meu violão e posso cantar qualquer música", disse o cantor.

Já Teresa Cristina, que abre os concertos, vai apresentar o seu álbum "Cartola", onde presta homenagem ao artista brasileiro Angenor de Oliveira (1908-1980), conhecido como "Cartola", compositor de samba e autor de canções como "As rosas não falam" e "O Mundo é um moinho".

"A Teresa canta as músicas de Cartola, um dos maiores nomes da música popular brasileira, com conhecimento e com o coração inteiro, acompanhada pelo Carlinhos 7 cordas, que toca lindamente", descreveu Caetano Veloso.

Sobre a escolha, Teresa Cristina contou que esta remete à sua primeira apresentação, no Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, em 2015, cuja inspiração foi a obra de Cartola, compositor que "admira" e no qual encontra "uma melancolia parecida com a portuguesa".

Questionado pela Lusa sobre o facto de não ter autorizado a publicação de uma biografia sua escrita pelos jornalistas brasileiros Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, que será publicada em maio, no Brasil, Caetano Veloso afirmou que, embora nunca o tenha dito diretamente aos autores, considerou o texto "fraco a nível literário".

A obra, intitulada "A Vida de Caetano Veloso - O Mais Doce Bárbaro dos Trópicos", cujo texto foi revisto, resulta de 20 anos de pesquisa e narra toda a trajetória do músico, sendo o primeiro trabalho biográfico não autorizado a ser publicado no país, depois das alterações feitas à Lei de Direitos Autorais.

Apesar de não ter lido a versão atual, o músico indica que as críticas presentes em jornais brasileiros continuam a considerar o livro "fraco" do ponto de vista literário, apesar das alterações.

Caetano Veloso referiu, no entanto, que os autores foram "muito carinhosos" com os seus familiares e amigos, e fizeram uma recolha "muita boa" das informações, contendo, esta nova versão do livro, desenhos e fotografias da sua infância, aprovadas pelo músico.

Quanto a projetos futuros, o músico, com 74 anos de vida e 52 de carreira, afirma que pretende tocar com os filhos e compor novas canções.

Acompanhado por Teresa Cristina, vai atuar nos dia 16 e 17 de maio, no salão Preto e Prata do Casino Estoril, 30 anos depois da sua anterior atuação, que ocorreu a 16 de maio de 1987.

A digressão mundial, que finaliza a 19 de maio, conta ainda com concertos em Barcelona, Madrid e Corunha (Espanha), Pádua e Roma (Itália), Antuérpia (Bélgica), Luxemburgo e Amesterdão (Holanda).