A obra “Uma Solidão Demasiado Ruidosa”, original de 1976, época de plena vigência da repressiva da União Soviética no antigo Bloco de Leste, foi censurada e publicada em ‘samizdat’, uma prática da altura destinada a evitar a censura imposta pelos governos dos partidos comunistas leais a Moscovo, através da qual algumas pessoas copiavam e distribuíam clandestinamente livros proibidos.

Como na realidade, esta é a história do velho Hanta, que, por ofício, prensa e destrói livros no subsolo de Praga, e que, por amor, salva dessa hecatombe os mais belos achados em pilhas de papel: textos de Kant, Hegel, Camus, Novalis e Lao-Tsé, todos eles condenados à destruição pelas autoridades.

Hanta é um homem simples, mas que medita – com lirismo, melancolia e humor – sobre os anos de vida que passou a operar aquela máquina hidráulica instalada num porão no centro de Praga.

Até que chega um dia, em que o progresso quer aniquilar com mais eficácia as páginas que Hanta insiste em resgatar da sua obsoleta prensa.

“Uma Solidão Demasiado Ruidosa” tornou-se uma obra de culto sobre a indestrutibilidade da memória e da palavra e o seu poder redentor em tempos bárbaros, afirma a editora.

O próprio autor confessou ter vivido apenas para escrever este livro.

Traduzido do checo por Ludmila Dismanová, com capa de Mariana Malhão, esta nova edição vem repor no mercado livreiro um livro que não era publicado desde 1992, ano em que surgiu pela primeira vez em Portugal, pelas edições Afrontamento.

Bohumil Hrabal (1914-1997), considerado um dos maiores escritores checos do século XX, foi toda a vida “compincha de caneca erguida nas tabernas de Praga, amigo da boa cerveja e de gatos (a ordem é aleatória)”, descreve a editora.

Cedo este autor se deixou seduzir pelos encantos da capital checa, tirou o curso de Direito, que nunca exerceu, viveu a ocupação nazi e a repressão do pós-guerra, e teve um sem-fim de ofícios, que lhe serviriam de inspiração para os seus livros: de ferroviário durante a guerra (“Comboios Rigorosamente Vigiados”, 1965, adaptado ao cinema em 1967) a prensador de papel (“Uma Solidão Demasiado Ruidosa”, 1976), passando por contrarregra e telegrafista.

As suas obras circularam clandestinamente após a Primavera de Praga, foram banidas e queimadas, e, a par de outros intelectuais, Bohumil Hrabal foi acossado pelo regime comunista e pelos censores do Estado.

Distinguiu-se pela publicação de obras como “Eu que Servi o Rei de Inglaterra” (1971), “A Terra Onde o Tempo Parou” (1973), ambos publicados em Portugal também pela Afrontamento, e “Terno Bárbaro” (1973), em versão portuguesa da Teodolito.

As suas obras caracterizam-se pelo humor grotesco e irreverente e pela obsessão com o discurso autêntico e pitoresco do seu povo.

No seu último dia de vida, caiu da janela do quinto andar, num hospital de Praga, ao dar de comer aos pombos.

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