Alan Parker faleceu esta sexta-feira de manhã (31) aos 76 anos, de doença prolongada, confirmou o British Film Institute.

O cineasta britânico (1944) deixa uma carreira eclética nos géneros e marcada pela rebeldia que arrancou, após anos no mundo da publicidade, com "Bugsy Malone" em 1976, onde cruzava o cinema de gangsters com o musical, com um elenco apenas de crianças (incluindo Jodie Foster e Dexter Fletcher, o futuro cineasta de "Rocketman").

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Muito popular continua a ser "Fama" (1980), sobre os jovens estudantes da Escola Superior de Artes Interpretativas de Nova Iorque e o seu duro processo de crescimento, que originou uma série popular de TV que durou seis temporadas.

Ainda no género, surge "Pink Floyd – The Wall" (1982), uma icónica, metafórica e peculiar abordagem ficional a partir do álbum com o mesmo título da banda; e o menos conhecido "Os Commitments" (1990), à volta dos pequenos dramas de uma banda irlandesa de "soul", que será um dos trabalhos mais admirados e consensuais do realizador.

Incontornável, apesar do resultado não ter agradado a muitos, é a célebre adaptação do musical de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice "Evita" (1996), uma produção de grande orçamento com Madonna, Antonio Banderas e Jonathan Pryce.

“Meu amigo e colaborador em ‘Evita’ e um dos poucos realizadores a realmente perceberem musicais no ecrã”, lamentou Andrew Lloyd Webber nas redes sociais.

Durante muitos anos também não faltaram polémicas e críticas ferozes na carreira, ampliadas por declarações inconvenientes e incendiárias, que fizeram ganhar muitos detratores entre entre os críticos e até colegas da profissão, principalmente com os dois filmes que lhe valeram nomeações para os Óscares.

O mais controverso, envolvendo até protestos diplomáticos, foi com o grande sucesso "O Expresso da Meia-Noite" (1978), com Brad Davis e John Hurt e argumento de Oliver Stone, um olhar incendiário sobre o sistema prisional da Turquia através da história verídica da fuga de um jovem americano.

Já com "Mississipi em Chamas" (1988), Alan Parker foi acusado de abusar das liberdades artísticas com a história verídica da investigação de dois agentes do FBI (Gene Hackman e Willem Dafoe) à morte violenta de três militantes dos direitos civis numa pequena cidade do Mississipi marcada pela divisão entre brancos e negros em 1964.

Controvérsia ainda rodeou "Nas Portas do Inferno" (1987), um diabólico "thriller" de terror com Mickey Rourke, Robert De Niro e Lisa Bonet, que por causa de uma cena de sexo recebeu inicialmente a classificação etária X da Motion Picture Association of America, normalmente atribuída aos filmes pornográficos.

Mais admirado foi o poético "Asas da Liberdade" (1984), distinguido com o Grande Prémio do Festival de Cannes, onde através da história de dois amigos (Matthew Modine e Nicolas Cage) traumatizados fisica e psicologicamente pela Guerra do Vietname, Alan Parker construiu um inesperado "hino à vida", amplificado pela primeira banda sonora para cinema de Peter Gabriel.

Embora com resultados de bilheteira dececionantes, nunca deixou de abordar histórias pouco consensuais em "Depois do Amor" (1982, a história da derrocada de um casamento com Albert Finney e Diane Keaton), "Venha Ver o Paraíso" (1990, uma história de amor intrarracial num campo de concentração de japoneses nos EUA com Dennis Quaid); "Sexo e Corn Flakes" (1994, sobre o peculiar sanatório John Harvey Kellogg, um dos criadores dos cereais com o seu nome, papel de Anthony Hopkins) e "As Cinzas de Ângela" (1999, drama sobre a miséria na Irlanda nas décadas de 1930 e 1940 com Emily Watson).

O seu último filme foi em 2003: "Inocente ou Culpado?", um (controverso) olhar sobre a pena de morte nos EUA com Kevin Spacey, Kate Winslet e Laura Linney.

Já no século XXI, Alan Parker tornou-se mais consensual, partilhando a sua experiência com os novos talentos e ajudando a lançar, enquanto primeiro presidente do UK Film Council, uma estratégia para colocar a indústria de cinema britânica numa nova direção em termos criativos e comerciais.

A sua morte também foi lamenteva pela Academia de Hollywood: “O seu trabalho entreteve-nos, ligou-nos e deu-nos um enorme sentido de tempo e lugar. Um talento extraordinário, cuja falta será imensamente sentida”.

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