A sede da produtora brasileira Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, foi alvo de um ataque com 'cocktails molotov', sem provocar feridos, semanas depois do lançamento, na Netflix, de uma sátira de Natal que está a causar polémica.

Esta quinta-feira, dia 26 de dezembro, foi partilhado um vídeo na imprensa brasileira que mostra um grupo de pessoas a reivindicar o ataque à sede da produtora. O vídeo de cerca de dois minutos foi publicado por um grupo chamado  Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira no Youtube.

De acordo com com o  jornal Estado de São Paulo, a Polícia Civil do Rio de Janeiro está a analisar as imagens publicadas online. À publicação, várias fontes avançaram que o vídeo mostra imagens verdadeiras do ataque.

Em comunicado, a produtora condena "todos os atos de violência" e afirma esperar que "os responsáveis por este ataque sejam encontrados e punidos".

O incidente foi filmado pelas câmaras de vigilância, tendo as imagens sido entregues às autoridades.

A 3 de dezembro, a produtora lançou um especial de Natal na plataforma Netflix, com o título "A primeira tentação de Cristo", na qual Jesus é representado como um jovem que terá tido uma experiência homossexual e também insinua que o casal bíblico Maria e José viveram um triângulo amoroso com Deus.

A sátira, de 46 minutos, protagonizado pelos humoristas brasileiros Gregorio Duvivier e Fábio Porchat, não agradou a grupos religiosos, que criticaram a temática abordada. Foi também lançada uma petição contra o filme, com mais de dois milhões de assinaturas de pessoas que consideram que o mesmo "ofende gravemente os cristãos".

Em 18 de dezembro, o deputado federal (membro da câmara baixa do Congresso) Júlio Cessar Ribeiro anunciou nas redes sociais que encaminhou um ofício ao ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, solicitando a "apuração e representação criminal" contra os humoristas da Porta dos Fundos.

O parlamentar alegou que os humoristas violaram o artigo 208 do Código Penal brasileiro ao "vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso".

Na Assembleia Legislativa do estado brasileiro de São Paulo o caso gerou um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), um instrumento legal que dá aos parlamentares o direito de investigar um facto que seja muito importante para a vida pública e para a ordem constitucional, legal, económica ou social do país.

“É um ódio que vem sendo alimentado há muito tempo na política, no Congresso, na câmara e também na Internet, claro, por líderes conservadores”, sublinhou Gregório Duvivier ao Expresso. "Eu não temo a violência porque o que eles querem é o medo. O grupo [‘Porta dos Fundos’], claro, já está a tomar medidas de segurança com a polícia. A polícia está a investigar quem foi e está a tomar as medidas possíveis. Estamos em pleno Natal, a empresa não tinha ninguém a trabalhar naquele momento, então ninguém foi ferido. O vigia estava lá, mas do lado de fora, não foi ferido pelo fogo e foi ele quem conseguiu apagá-lo", acrescentou o ator que veste a pele de Jesus gay no especial da Netflix.