O conceito de base era relativamente simples: criar um parque de diversões que fosse limpo e seguro, e onde os pais pudessem divertir-se tanto como os filhos, sem se limitarem a ficar sentados no banco a vê-los a brincar.

A ideia surgiu na mente de Walt Disney numa das muitas vezes em que procurava passar o tempo à espera que as filhas acabassem de andar no carrossel.

A essa ideia acabou por unir-se a outra que germinava pela mesma altura na cabeça do criador do Rato Mickey: a de criar um espaço onde os visitantes do estúdio pudessem ver algo mais da imensa magia dos filmes Disney do que permitia a realidade do dia a dia do local, que se resumia à pouca encantadora imagem de um grupo de pessoas a desenhar em frente a um estirador.

Como quase sempre acontecia com Disney, o sonho cresceu e desenvolveu-se, até atingir uma escala que fazia da sua concretização uma realidade praticamente impossível.

Nos difíceis anos do pós-guerra, era uma verdadeira loucura gastar a fortuna de 17 milhões de dólares no que era então projeto radicalmente inédito, um parque de diversões de 16 hectares sobre o imaginário do cinema, que caso não funcionasse teria seguramente levado o estúdio e o seu criador à bancarrota.

Não era a primeira vez que Disney arriscava literalmente tudo num projeto, mas tal como antes a aposta foi ganha acima de todas as expectativas.

A Disneyland tornou-se quase imediatamente um verdadeiro ícone da América, cujo conceito se espalhou pelos quatro cantos do mundo e que estava muito longe de se esgotar nas personagens Disney, abarcando muitos dos principais temas do imaginário ocidental veiculado pelo cinema.

Muito para lá das três dimensões que dominam a Sétima Arte atual, a característica mais marcante de qualquer parque Disneyland é a recriação física dos ambientes do cinema, nos quais o visitante pode mergulhar fazendo uso dos cinco sentidos, numa experiência tão fascinante como imersiva.

Selvas tropicais, grutas de piratas, naves espaciais, casas assombradas, cidades do Oeste ou castelos de encantar são apenas alguns dos locais de exploração obrigatória nos parques, com os quais o visitante interage diretamente, não só pelo olhar mas também pelo cheiro e pelo toque. É a possibilidade de acesso direto à fantasia, sem filtragem pelo ecrã de cinema.

Mas mesmo antes de nascer a Disneyland já inovava: para financiar a construção do parque e também para o promover, Disney tornou-se o primeiro grande nome do cinema a perder o medo da então emergente televisão, criando um programa semanal nas noites de domingo intitulado precisamente “Disneyland”.

Esse programa foi um sucesso fulgurante, tornou-se lendário para os americanos e acabou por sedimentar no imaginário colectivo a imagem do próprio Walt Disney, que era o anfitrião. Logo a seguir, o cinema deixou de temer o pequeno ecrã e um ano depois, a imagem rotunda de Alfred Hitchcock tornar-se-ia mítica pela mesma via.

A partir daí, o mundo tomou nota e os parques temáticos tentaram copiar a fórmula, quase sempre sem o mesmo sucesso.

Mesmo assim, muitas das inovações permaneceram quase como dados adquiridos, nomeadamente a importância capital dada à limpeza e à renovação de todos os espaços, a tentativa de envolvência completa do ambiente, a tónica na simpatia dos funcionários e na segurança do local, e a noção de um espaço amplo de onde não se precisa de se sair para aceder a todo o tipo de actividades lúdicas, que incluem a restauração e as compras. E a inovação foi muito além dos parques temáticos, sentindo-se hoje um hotéis, cruzeiros e mesmo nos centros comerciais, pensados de raiz para serem experiências totais de prazer e lazer.

Ainda assim, 65 anos depois da abertura da primeira Disneyland, a experiência de visitar um parque temático Disney continua a ser incomparável à de visitar qualquer outro. Muito longe de ser uma acumulação aleatória de carrosséis e montanhas russas, como é a maioria dos seus rivais, destaca-se sobretudo pelo seu lado completamente imersivo e absorvente, com uma atenção obsessiva aos mais ínfimo detalhe, e que tem sabido evoluir e abarcar todas as mais sofisticadas tendências do entretenimento.

Desde que abriu as portas, a Disneyland original já acolheu mais 720 milhões de visitantes, incluindo reis e presidentes dos quatro cantos do mundo. Desde então, a Disney já abriu parques equivalentes na Florida (o Walt Disney World, em 1971), em Tóquio (a Tokyo Disneyland em 1983), em Paris ( a Disneyland Paris em 1992), em Hong Kong (a Hong Kong Disneyland em 2005) e em Xangai (o Shanghai Disney Resort em 2016).

O parque já tinha fechado inesperadamente algumas vezes, como em 1963 na sequência do assassínio do Presidente John Kennedy ou em 2001 após os ataques terroristas de 11 de setembro, mas nunca por mais que alguns dias. Desta vez, foi diferente: a 14 de março de 2020, a Disneyland fechou as portas devido à pandemia da COVID-19 e, embora tivesse previsto reabri-las hoje, 17 de julho, na celebração do seu 65º aniversário, o número crescente de casos na California levou ao adiamento dessa data para um futuro que se espera próximo.

Finalmente, entre todas as inovações da Disneyland, há uma que ninguém refere mas que faz mais parte do dia-a-dia de muita gente do que muitas das referidas acima: é que foi lá, no restaurante de comida mexicana Casa de Fritos, que foram criados os populares Doritos, que invadiriam o mundo a partir de meados dos anos 60.

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