Numa altura em que os meios de comunicação são acusados de divulgar "notícias falsas", Steven Spielberg, Meryl Streep e Tom Hanks levam todo o poder das estrelas a um filme que é uma grande homenagem ao jornalismo e às virtudes da imprensa.

"The Post", que estreia esta sexta-feira (22) nos Estados Unidos e em 25 de janeiro em Portugal, conta os bastidores da batalha para a publicação, em 1971, pelo jornal The Washington Post, dos "Papéis do Pentágono", um relatório que revelou as mentiras sobre a participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietname.

Dirigido por Spielberg, o filme tem como protagonistas Meryl Streep, como a aristocrata editora do jornal Katharine Graham, e Tom Hanks, no papel do tenaz editor executivo Ben Bradlee. Todos favoritos para serem nomeados na próxima edição dos Óscares.

O drama central do filme aborda a decisão de Graham de publicar os documentos do Pentágono, um movimento que poderia ter provocado consequências fatais para o jornal que começou a dirigir em 1963, após o suicídio do marido.

Os Papéis do Pentágono, que foram passados pelo informador Daniel Ellsberg, eram um relatório confidencial de sete mil páginas que afirmava, ao contrário das declarações públicas dos funcionários do governo americano, que a guerra do Vietname era impossível de vencer.

O jornal The New York Times publicou trechos do relatório até que o governo do presidente Richard Nixon obteve uma ordem judicial para proibir a publicação,alegando que interferia em assuntos de segurança nacional.

Foi então que o Washington Post avançou, assumindo a missão e desafiando os perigos legais e financeiros.

Spielberg, Streep e Hanks compareceram na semana passada à antestreia de "The Post" no museu dedicado ao jornalismo, o Newseum, que fica a pouca distância da Casa Branca.

Mesmo ausente, o evento girou em torno do presidente Donald Trump, que há meses lidera uma campanha contra a imprensa, que considera injusta com ele.

Trump tem sido particularmente mordaz com a CNN e o New York Times e atacou repetidamente o Post, que acusou de "desonesto, mentiroso" e, usando os seus termos favoritos, de publicar "fake news" [notícias falsas].

No Twitter, o presidente chama o jornal de "Amazon Washington Post", em referência a Jeff Bezos, proprietário da gigante da internet Amazon, que comprou o Post da família Graham em 2013.

'Filme sobre patriotismo'

Na antestreia, Spielberg, Hanks e Streep, que já foi chamada por Trump de "sobrevalorizada", evitaram citar o nome do presidente e minimizaram os comentários de que o filme seria uma crítica à atual Casa Branca.

"Acredito que é muito, muito importante que o nosso filme não seja visto como uma obra política ou partidária por parte do que chamam os media liberais ou Hollywood", disse Spielberg.

"Não o vejo como um filme partidário e sim como um filme sobre patriotismo e sobre os meios de comunicação corajosos, o Quarto Poder, e tudo o que fizeram para conseguir publicar os Papéis do Pentágono, que depois levou ao Watergate", acrescentou.

O caso Watergate foi tema de um grande sucesso de Hollywood, no qual o Washington Post também teve um papel central: "Os Homens do Presidente", no qual Robert Redford e Dustin Hoffman interpretaram os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein.

Apesar dos pedidos de Spielberg, os críticos constatam paralelos inevitáveis entre "The Post", a sua defesa da imprensa e a difamação constante de Trump contra os meios de comunicação.

"'The Post' leva-nos de regresso a um tempo em que os resultados eram precários e as liberdades que considerávamos garantidas estavam por um fio", afirma a revista Variety. "Exatamente como hoje".

Para a revista The New Yorker, "'The Post' não é um filme de época. Enfrenta diretamente o dia de hoje, lutando pela urgência de uma manchete".

"O filme está aqui para nos alertar sobre as novas ameaças à liberdade de imprensa", concluiu.

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