Faz parte da "mitologia" à volta de Quentin Tarantino: o realizador começou a construir um conhecimento enciclopédico de cinema ao trabalhar num clube de vídeo na sua juventude.

Ainda hoje, Tarantino continua a defender a excelência mais pura da experiência de "cinema", continuando a rodar os seus filmes em película. E claro que na sala de cinema de que é proprietário também não entram cópias digitais.

Numa nova entrevista, ele revela ser "muito triste" a forma como ver cinema mudou e que ficou surpreendido como o público mudou de hábitos tão depressa sem parecer importar-se com o que ficou para trás.

No entanto, Tarantino acrescenta que isto não tem a ver com nostalgia e usa como exemplo serviços como o Netflix.

"Não sou adepto do Netflix, portanto nem consigo dizer como é que funciona. Mas mesmo quando apenas se têm todos os canais de cinema no pacote de televisão — e isso é algo que tenho — e se vai ao guia e se começa a descer na lista, escolhe-se e vê-se algo ou grava-se algo, e talvez se acabe por nunca se ver ou apenas se veja por 10 ou 20 minutos, e talvez se comece a fazer outras coisas. É nisso que caímos.", explicou.

Essa indiferença pelo que se está a ver, acrescentou, não existia antigamente: "Havia uma qualidade diferente nos clubes de vídeo. Ia-se à loja, andava-se por lá, pegava-se nas caixas, via-se a parte de trás — fazia-se uma escolha."

"E talvez falássemos com o tipo atrás do balcão e talvez ele chamasse a nossa atenção para algo. E ele não punha apenas algo nas nossas mãos, ele dava-nos um pouco aquela conversa de vendedor, de uma forma ou de outra. O que quero dizer é que se estava envolvido de uma forma que não se está envolvido com a tecnologia eletrónica no que se refere aos filmes", defendeu.

"Escolhia-se aquele filme. Claro que todos alugávamos três filmes e acabávamos por não ver o terceiro, mas existia um compromisso no que se acabava por levar. Talvez se fosse ao clube para apanhar o 'Top Gun'. E conseguia-se o 'Top Gun'. Mas depois pegava-se em algo que nunca tínhamos ouvido falar, apenas porque se queria outra coisa além do 'Top Gun'. E talvez fosse algo que nos despertasse a atenção, sobre o qual não sabíamos de nada. E se arriscasse. Mas alugava-se. E tentava-se ver de uma forma ou de outra.", continuou.

"E foi isso que se perdeu. De uma forma bizarra, perdeu-se o compromisso.", concluiu.