A notícia foi avançada pelo site "Deadline", mas entretanto foi confirmada pelos vários orgãos de comunicação social da especialidade, com as opiniões a divergirem sobre a decisão ser definitiva ou ainda haver espaço para negociações. O "Hollywood Reporter" conseguiu entretanto uma declaração da Sony, que se afirma "desapontada" com o desfecho.

As notícias davam conta de uma vontade de renegociar os termos da parceria por parte da Disney, que quereria doravante co-financiar os filmes em 50%, o que não terá sido aceite pela Sony, que terá preferido prosseguir sozinha nos filmes do Homem-Aranha, sem o apoio criativo de Kevin Feige, o principal arquitecto do chamado Universo Cinematográfico Marvel.

A declaração da Sony parece querer apontar numa direcção um pouco diferente, colocando a responsabilidade numa decisão da Disney em deixar cair o envolvimento com a personagem: “Muitas das notícias de hoje sobre o Homem-Aranha não caracterizaram de forma correcta as discussões sobre o envolvimento de Kevin Feige no franchise", disse um porta-voz da Sony.

“Estamos desapontados mas respeitamos a decisão da Disney em que ele não continue a ser o produtor principal do nosso próximo filme de imagem real do Homem-Aranha. Esperamos que isso possa mudar no futuro, mas compreendemos que as muitas novas responsabilidades que a Disney lhe deu – incluindo as novas propriedades da Marvel recentemente acrescentadas [com a aquisição da 20th Century Fox pela Disney] – não lhe permitam ter tempo para trabalhar numa marca que eles não possuem. Kevin é excepcional e estamos gratos pela sua ajuda e condução e apreciamos o caminho que ele nos ajudou a trilhar, que esperamos continuar", concluiu.

Todas as notícias dão conta de que a ruptura se terá devido, na verdade, ao facto dos responsáveis pelos estúdios Disney e Sony, respetivamente Alan Horn e Tom Roth, não terem chegado a acordo sobre o modelo de parceria que lhes permita avançar.

Uma parceria invulgar

Recorde-se que, apesar da Marvel ser atualmente propriedade da Disney, a sua personagem central, o Homem-Aranha, tem ainda os direitos de adaptação ao cinema trancados pela Sony, que produziu a trilogia de filmes de Sam Raimi protagonizados por Tobey Maguire entre 2002 e 2007 e as duas fitas de Marc Webb encabeçadas por Andrew Garfield entre 2012 e 2014.

Para que a personagem pudesse integrar os filmes do chamado Universo Cinematográfico Marvel, encabeçado criativamente por Kevin Feige e que se tornou a série de maior sucesso em valores brutos da história do cinema, a Sony e a Marvel fizeram um acordo invulgar: a Marvel teria o controlo criativo dos filmes a solo do Homem-Aranha lançados pela Sony e poderia utilizá-lo também como participante nos seus próprios filmes, cobrando para isso apenas uma percentagem de 5% dos valores brutos de bilheteira e mantendo os direitos totais sobre o merchandising.

A parceria foi mútua para ambas as partes, com o Homem-Aranha interpretado por Tom Holland a surgir como secundário no filme da Marvel "Vingadores: Guerra Civil" (2016) e nos filmes posteriores do super-grupo (incluindo, já este ano, "Vingadores: Endgame", que se tornou o maior sucesso da história do cinema em valores brutos) e também em dois filmes a solo pela Sony, "Homem-Aranha: Regresso a Casa", em 2017 e, já este ano, "Homem-Aranha: Longe de Casa", que arrecadou já mais de mil milhões de dólares nas bilheteiras de todo o mundo, tornando-se o maior sucesso de sempre da Sony ao ultrapassar os valores do mais recente filme da saga 007, "Spectre".

A solo a Sony continuou a explorar outras vertentes do universo Homem-Aranha desligadas da continuidade do Universo Cinematográfico Marvel, com dois filmes de sucesso inesperado estreados o ano passado, "Venom" e "Homem-Aranha: No Universo Aranha", que ganhou o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação.

Apesar do comunicado da Sony, as notícias dão conta de que a Disney quereria agora renegociar o contrato, estabelecendo um co-financiamento de 50/50 em termos de investimento e lucros, e que a Sony teria optado por manter o contrato pré-existente, confiando que o sucesso que teve com os últimos filmes que produziu de forma isolada lhes permitiria subsistir sem o apoio criativo de Feige.

A Sony tem na calha duas sequelas de Homem-Aranha com Tom Holland, mais sequelas de "Venom" (agora realizado por Andy Serkis) e de "Homem-Aranha: No Universo Aranha", além de um filme protagonizado por um dos inimigos do herói, Morbius, protagonizado por Jared Leto e com estreia já em 2020.

A Marvel ainda não reagiu oficialmente às notícias embora um dos protagonistas dos filmes dos Vingadores, Jeremy Renner, já tenha colocado um post no Instagram a assinalar que queria o Homem-Aranha de regresso ao Universo Cinematográfico Marvel.