"Let it Be", documentário sobre os Beatles lançado pouco depois da separação, em 1970, da banda que revolucionou a música e incorporou a rebeldia da juventude, regressou aos ecrãs esta quarta-feira (8).

A partir do negativo original de 16 milímetros, a plataforma Disney+ conseguiu produzir esta nova versão do filme, "Improviso", como se chamou originalmente em Portugal, que conta com som remasterizado e utiliza a mais recente tecnologia de mistura de som.

Filmado em janeiro de 1969, a longa-metragem do realizador Michael Lindsay-Hogg traz momentos de tensão e atritos entre John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, que eventualmente podem ter levado à separação da banda.

"George não conseguiu gravar muitas músicas porque John e Paul eram prolificamente brilhantes", disse à France-Presse Jonathan Clyde, diretor da produtora Apple Corps, fundada pelos próprios Beatles para zelar pelos seus interesses.

“John conheceu Yoko [Ono] e estava a seguir a sua própria jornada, Paul estava a fazer o que queria e Ringo começou a fazer filmes”, acrescentou Clyde.

Espetáculo no telhado

O documentário mostra os “Fab Four” nos ensaios e sessões de gravação do álbum “Let It Be”. A parte final apresenta um espetáculo surpresa de 40 minutos no telhado do prédio da sua editora em Savile Row, em Londres.

Clyde explicou que o filme cobriu um período em que os Beatles tentaram reacender o mesmo espírito que tinham quando começaram a apresentar-se no Cavern Club de Liverpool e na cidade alemã de Hamburgo.

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Mas essa tentativa foi prejudicada pela separação da banda em abril de 1970, um mês antes do lançamento do documentário, que o tornou injustamente uma “espécie de pós-escrito estranho do final da sua carreira”, acrescentou Clyde.

“Eles nunca tiveram um grande amor por ‘Let It Be’ porque acho que o associaram a todos esses problemas”, explicou Clyde após a apresentação do filme remasterizado na terça-feira em Londres.

Mais de meio século depois, a obra pode ser vista de uma perspectiva mais objetiva, como um registo inestimável do processo criativo dos Beatles.

“Todos nós sabemos que eles eram génios, criaram músicas incríveis ano após ano, mas também trabalharam arduamente para isso”, disse o produtor.

“Dá para ver que eles dão dois passos para frente, ou um passo para trás dentro desse processo, com dias em que nada realmente acontecia e então, de repente, aparecia uma explosão de energia que os fazia avançar”, acrescentou.

O realizador de “O Senhor dos Anéis”, Peter Jackson, utilizou cerca de 60 horas de filmagens inéditas desse documentário para o lançamento, em 2021, de uma série sobre a realização de "Let It Be".

Um documentário sobre o documentário

"Improviso"

"The Beatles: Get Back", de Jackson, um documentário sobre um documentário, ofereceu uma visão mais positiva dos últimos meses dos Beatles juntos, usando cenas para mostrar os companheiros de banda a brincar enquanto criavam clássicos para o seu 12.º e último álbum de estúdio.

O destaque do documentário de Lindsay-Hogg, agora remasterizado no Disney+, é o espetáculo no telhado, a última apresentação pública juntos.

O jornalista e crítico musical John Harris disse que funcionários de escritórios e pedestres vestidos com chapéus-coco ou minissaias instantaneamente pararam nas ruas ou subiram ao topo de prédios vizinhos para ter uma boa visão do surpreendente espetáculo espontâneo.

“Evoca a Londres daquela época, com idosos de chapéu e todas aquelas pessoas a subir aos telhados”, explicou.

"É uma imagem icónica. John com o seu casaco de pele, Ringo com a sua capa de chuva de plástico vermelha, Paul com aquele lindo fato preto e George com as suas calças verdes e botas de basebol. É tudo perfeito", concluiu.