O lendário produtor britânico David Puttnam acredita que o dinheiro está a sufocar a criatividade na indústria cinematográfica e parte da culpa é da Netflix.

A plataforma de streaming tem investido muito dinheiro em conteúdos originais e prevê gastar oito mil milhões de dólares só em 2019.

Isto está a atrair muitos talentos da indústria cinematográfica e televisiva, mas isso é "colocar o carro à frente dos bois" para o homem que ajudou a concretizar projetos como "Momentos de Glória", vencedor de vários Óscares em 1981, e ainda "Local Hero" (1983), "Terra Sangrenta (1984) e "A Missão" (1986), mas também previu a televisão por subscrição logo em 1981.

"Neste momento há muito dinheiro a circular na indústria", uma circunstância que descreve numa entrevista ao Yahoo Movies inglês como "incontinência" logo à partida.

"Percebo exatamente a razão para a Netflix estar a fazer isto. Têm um modelo de negócio, que funciona, mas o efeito líquido é que duplicar o salário não melhora as perspetivas de carreira das pessoas ou o resto. Não é isso que faz, especialmente no topo", explica.

"O talento está literalmente a ser comprado. Vi isso acontecer nos anos 80 e é a segunda vez a que assisti a isto na minha vida", acrescenta.

David Puttnam sabe do que está a falar porque não foi apenas um produtor, viu o "outro lado" da indústria: durante um curto período (1986-1988), foi presidente-executivo do estúdio Columbia Pictures, a único não-americano até hoje a conquistar essa posição.

A experiência foi considerada por Hollywood como um falhanço, mas onde ainda se destaca ter aprovado a produção de "O Último Imperador" (1987), de Bernardo Bertolucci, vencedor de nove Óscares.

O produtor contou também o que aconteceu para se decidir reformar do mundo do cinema em 1998, aos 57 anos, para se dedicar às causas ambientais e educativas. "Tinha realmente um grande projeto e alguém me disse, 'quem é que vai entrar?'. E eu disse que não tinha sequer ainda pensado nisso e de repente percebi que estava a passar para um mundo 'quem vai entrar no projeto?' ["who’s in it?"] e não um mundo 'qual é o projeto' ['what is it?]. Não queria fazer isso".