Após a Netflix despedi-lo da série "House of Cards", agora é a vez do mundo do cinema começar a fechar as portas a Kevin Spacey na sequência do escândalo sexual em que está envolvido.

A TriStar Pictures retirou "All the Money in the World" da sessão de encerramento do American Fim Institute Fest (AFI Fest), que é uma das posições de maior visibilidade para a temporada de prémios que culmina na cerimónia dos Óscares.

O filme, realizado por Ridley Scott e ainda com Mark Wahlberg, Michelle Williams e Timothy Hutton, conta a famosa história do rapto de John Paul Getty III quando tinha 16 anos.

Sem nunca o mencionar pelo nome e destacando as pessoas que trabalharam "eticamente" no projeto, o comunicado a dar conta da decisão é uma humilhação pública para o ator vencedor de dois Óscares.

"'All the Money in the World' é um filme soberbo e mais do que merecedor da sua posição de honra no Festival do AFI Fest. Mas dadas as atuais alegações em redor de um dos seus atores e por respeito pelos que foram afetados, seria inadequado celebrar numa gala neste momento difícil. Nesse sentido, o filme será retirado", refere a TriStar.

"No entanto, o filme não é o trabalho de uma pessoa. Existem mais de 800 outros atores, argumentistas, artistas, técnicos e equipas que trabalharam incansavelmente e eticamente neste filme, algumas durante anos, incluindo um dos realizadores mestres do cinema. Seria uma enorme injustiça puni-los a todos pelas atitudes erradas de um ator secundário no filme. Nesse sentido, o filme irá estrear em muitas salas a 22 de dezembro como planeado", conclui o comunicado.

Uma queda vertiginosa

A reputação de Kevin Spacey começou a ser arrasada quando, inspirado pelas várias denúncias de assédio sexual e violação a nomes poderosos em Hollywood nas últimas semanas e particularmente pelo caso Harvey Weinstein, o ator Anthony Rapp, que fez carreira em vários musicais da Broadway e participa na série "Star Trek: Discovery", acusou-o de, em 1986, quando Rapp tinha 14 anos e Spacey 26, de ter feito uma "investida sexual agressiva" contra si depois de uma festa em Nova Iorque.

Anthony Rapp
Anthony Rapp

Em resposta às acusações de Rapp, Kevin Spacey partilhou na sua conta de Twitter um pedido de desculpas e assumiu a sua homossexualidade.

Spacey começou por dizer que não tinha memória do encontro mas desculpa-se pelo que Anthony Rapp o acusa de ter feito.

"Honestamente, não me recordo do encontro, que teria sido há 30 anos. Mas se me comportei como ele descreve, devo-lhe um sincero pedido de desculpas por aquilo que terá sido um comportamento verdadeiramente inadequado e alcoolizado, e lamento os sentimentos que ele descreve ter carregado consigo durante todos estes anos", disse o ator.

A seguir, falou sobre a sua vida privada e confirmou que é homossexual.

"Sei que há histórias sobre mim e que algumas foram alimentadas pelo facto de eu ser tão protector em relação à minha privacidade. Como os que são mais próximos de mim sabem, na minha vida tive relações com mulheres e homens. Amei e tive encontros românticos com homens ao longo da minha vida, e escolho agora viver como um homem gay", acrescentou Spacey no Tweet.

A mistura na declaração de pedofilia e homossexualidade foi amplamente criticada por vários setores.

Entretanto, surgiram outras acusações do realizador Tony Montana, o ator mexicano Roberto Cavazos, do ator americano Harry Dreyfuss e um ex-funcionário do teatro londrino Old Vic.

Outro ator, sob anonimato, também afirmou que a estrela de Hollywood o tentou violar quando ele tinha 15 anos.

Segundo a CNN, oito atuais e antigos funcionários de “House of Cards” acusaram Spacey de ter tornado tóxico o ambiente da produção de "House of Cards", por causa do assédio sexual.

Um porta-voz do ator afirmou à imprensa que Kevin Spacey vai submeter-se a tratamento.