O Irão escolheu "The Night Guardian", do realizador Reza Mirkarimi, como a candidatura do país na categoria de Melhor Filme Internacional da 96.ª cerimónia dos Óscares, que se realizará a 10 de março de 2024.

O anúncio foi feito pela Farabi Cinema Foundation, a instituição cinematográfica mais importante do país.

Lançado no ano passado, o filme retrata a vida difícil de um trabalhador agrícola que tenta ganhar a vida em Teerão, a enorme capital iraniana.

Escolhido entre três finalistas e depois de 42 filmes elegíveis, é a terceira vez que um filme de Reza Mirkarimi é escolhido para representar o Irão nos Óscares, depois de "Kheili dour, Kheili nazdik" ("So Close, So Far") em 2005 e "Today" em 2014.

Desde 1994 que o país concorre e já ganhou por duas vezes na categoria, com "Uma Separação" e "O Vendedor", ambos dirigidos por Asghar Farhadi.

A candidatura foi violentamente criticada por profissionais dissidentes do cinema iraniano, que pedem à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que escolha um filme alternativo para representar o país, apesar de Reza Mirkarimi ser um dos melhores amigos do Jafar Panahi, que passou sete meses na prisão e dois dias em greve de fome antes de ser libertado sob caução em fevereiro.

Em comunicado, a Associação Iraniana de Cineastas Independentes (IIFMA) recorda que o governo da República Islâmica mantém a repressão da população em geral e especificamente da comunidade artística, e alega que a Farabi Cinema Foundation, sob o seu controle, tem um papel central na sua implementação.

"Como pode uma instituição conhecida pela sua censura e repressão representar o cinema iraniano", pergunta à Academia a organização criada pouco antes do início do Festival de Cinema de Berlim em fevereiro para representar cineastas não afiliados com o governo do Irão.

A IIFMA alega que "The Night Guardian" e os outros dois finalistas não refletem o trabalho criativo realizado este ano pelos cineastas iranianos, a maioria dos quais a trabalhar clandestinamente ou no exílio, citando vários que foram excluídos pela Farabi apesar do forte percurso internacional, como "Critical Zone", vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Locarno, "Empty Nets", "Endless Borders", "Terrestrial Verses" ou "The Sun Will Rise".

Outro título citado foi "Shayda", de Noora Niasari, nascida no Irão, mas que cresceu em Melbourne, que acabou por ser escolhido como a candidatura da Austrália.

“Os cineastas independentes que não fazem parte da rede de propaganda do regime estão proibidos de trabalhar. As suas casas e locais de trabalho são invadidos e as exibições públicas dos seus filmes no Irão são inviáveis. A Academia considera o facto de estes filmes não serem exibidos no seu país de origem uma razão válida para a sua rejeição nos Óscares?”, escreve a IIFMA.

“Estes são apenas alguns filmes produzidos no Irão no ano passado, sob forte pressão de segurança e essencialmente clandestinos. Nenhum destes filmes entrou na lista de nomeações da Farabi para a Academia. A Farabi nega aos cineastas independentes os seus direitos fundamentais, ao mesmo tempo que transforma a seleção aos Óscares numa recompensa ao aparato de propaganda do regime", acrescenta.

"Sugerimos que um grupo escolhido de membros da Academia passe anualmente em revista os filmes independentes iranianos exibidos em festivais internacionais de renome para nomear um representante do cinema independente iraniano aos Óscares", termina.