A Netflix está a fazer tudo para garantir que "Roma" se sai muito bem nos Óscares. Que é o mesmo que dizer: está a gastar milhões de dólares na campanha... e mais do que o que a concorrência.

Sabe-se que a plataforma de streaming e o seu presidente Ted Sarandos querem o reconhecimento artístico associado aos prémios e principalmente o maior deles todos. Se o conseguirem, será mais fácil convencer outros talentos para os seus projetos.

A sua melhor hipótese parece ser o filme de Alfonso Cuarón sobre as suas memórias de infância no México nos anos 1970.

Mas apesar de ser já o mais premiado da temporada, existem vários obstáculos no caminho para a máxima consagração das estatuetas douradas: além de ser da Netflix e contrariar o modelo tradicional de exclusividade das salas de cinema (teve um lançamento limitado, boicotado aliás por muitos exibidores, antes de ficar disponível online), é a preto e branco, sem atores conhecidos e em língua estrangeira.

Para os ultrapassar, bem como a concorrência de "Assim Nasce Uma Estrela", "Black Panther" ou "Green Book", está-se a assistir ao que os entendidos de Hollywood consideram ser a campanha mais cara desde "A Rede Social", que terá ficado pelos 25 milhões de dólares na temporada de 2010-11.

Nesse ano, o vencedor acabou por ser "O Discurso do Rei", numa campanha gerida pelo produtor agora caído em desgraça Harvey Weinstein.

As iniciativas passaram desde enviar caixas de chocolates com uma mensagem assinada por Yalitza Aparicio, protagonista do filme, aos votantes dos Globos de Ouro, às festas de homenagem com estrelas famosas como anfitriãs (entre elas Angelina Jolie), "outdoors" por todo o lado em Los Angeles e até a exibição de um anúncio de dois minutos no CBS Sunday Morning que não ficou por menos de 170 mil dólares.

Ao Fast Company, um relações públicas de um estúdio rival que não quis ser identificado comparou a Netflix a uma organização tão poderosa que pode cilimbrar tudo à volta: "Parece que têm fundos ilimitados".

Outro salientou que "não está a gastar um pouco mais do que os outros. Estão a gastar milhões e milhões a mais".

Um especialista em marketing que trabalhou com a Netflix noutras campanhar contou que "é suposto trabalhar dentro de um orçamento, mas se tivermos uma grande ideia eles arranjam maneira de avançar".

E, claro, os bolsos sem fundo estão a despertar ressentimentos nos estúdios rivais.

"A Netflix está a ficar mal vista porque algumas pessoas estão com ciúmes. Os estúdios não têm tanto dinheiro como antes. Se tivesse o dinheiro para gastar, iriam gastá-lo. A Netflix tem o dinheiro. Obviamente, o Ted [Sarandos] quer realmente uma nomeação. Não lhe levo a mal. Estão a fazer tudo o que podem. O Harvey  fazia tudo o que podia. E os estúdios também quanto tinham o dinheiro", salientou uma das fontes ouvidas.

As nomeações para os Óscares são anunciadas a 22 de janeiro e a cerimónia está marcada para 24 de fevereiro.