Para muitos, ele é o pai da banda desenhada de recorte auto-biográfico, o primeiro a praticá-la de forma continuada e consistente para retratar os pequenos nadas do dia a dia, gerando discretamente um movimento que haveria de explodir com mais força a partir do final da década de 80, e que não mais pararia de aumentar.
Harvey Pekar foi encontrado morto em sua casa pela sua esposa, personagem frequente das suas histórias, na manhã de segunda-feira, 12 de Julho.

Segundo o responsável da polícia local, a razão do óbito ainda não fora definida mas sabia-se que Pekar sofria de cancro na próstata, asma e tensão alta. Aliás, uma das suas obras mais célebres e premiadas, em ruptura com as suas habituais narrativas de poucas páginas, foi precisamente
«Our Cancer Year», uma «graphic novel» extensa em que documenta o seu combate com um linfoma.

A popularidade de que gozou na última década da sua vida deveu-se em grande parte ao cinema, e a um filme que adaptou e forma bastante criativa a revista autobiográfica que lhe deu prestígio,
«American Splendor», que o autor publicava de forma independente desde 1976. Realizado pelos documentaristas
Robert Pulcini e
Shari Springer Berman, trata-se de um filme exemplar no cruzamento entre documentário e ficção, com Harvey Pekar a surgir como ele próprio e como personagem, interpretado por
Paul Giamatti.

Na revista «American Splendor», Pekar contava as pequenas histórias do seu dia a dia, não escamoteando nada, inclusivamente o seu mau feito, as suas neuroses e inseguranças, os seus ódios e as suas paixões. Eram pequenas histórias de vida, pedaços do quotidiano sem moral no final, que no filme surgem em duas tangentes paralelas: a recriação da realidade com actores e as entrevistas e imagens de arquivo às figuras reais do universo de Pekar, utilizando vários dos artifícios da BD pelo meio.

Apaixonado e coleccionador de jazz, chegando mesmo a fazer crítica musical, Pekar reservava sempre para outros o desenho das histórias que escrevia e que raramente era o ponto alto das mesmas, excepto quando as ilustrações cabiam a artistas da craveira de Robert Crumb. Apesar de ter tido uma carreira com frequentes dificuldades financeiras, que o obrigou a manter sempre um emprego de funcionário público num hospital para sustentar a auto-publicação da sua obra, Pekar viveu uma última década de relativa glória, com o filme a chamar a atenção para a sua obra e a consolidar o seu trabalho como absolutamente referencial nos anais da contra-cultura e da banda desenhada.

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