As surpresas e omissões fazem parte das nomeações para prémios, mas a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood está a ser bastante criticada por ter deixado mulheres fora da corrida para Melhor Realização nos Globos de Ouro.

Na lista anunciada esta segunda-feira, voltam a estar nomeados cinco homens: Martin Scorsese ("O Irlandês"), Quentin Tarantino ("Era Uma Vez... em Hollywood"), Bong Joon-ho ("Parasitas"), Sam Mendes ("1917") e Todd Phillips ("Joker").

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Lulu Wang ("A Despedida"), Lorene Scafaria ("Ousadas e Golpistas"), Olivia Wilde ("Booksmart") e Marielle Heller ("A Beautiful Day in the Neighborhood") são algumas das omissões mais mencionadas, mas a mais mediática é a de Greta Gerwig pela nova versão de "Mulherzinhas": há dois anos, a organização também se esqueceu dela por "Lady Bird", o que não aconteceu a seguir nos Óscares.

Após estar "do lado de dentro pela primeira vez este ano", Alma Har’el, realizadora da "Honey Boy" (o filme autobiográfico sobre Shia LaBeouf e o seu pai), que está nomeada para os Independent Spirit Awards, comentou nas redes sociais que as pessoas que votam nos Globos "não nos representam" e "não procuramos justiça no sistema de prémios. Estamos a construir um mundo novo".

Várias organizações de ativismo pela maior inclusão também subiram o tom das críticas.

"Estão desfasados. Enquanto vemos os estúdios e as produtoras a alterar comportamentos, estas nomeações revelam que embora as mulheres estejam a conseguir oportunidades, a mentalidade de quem faz parte dos Globos de Ouro não parece respeitar ou valorizar a suas posições", salientou Stacy L. Smith, diretora da USC Annenberg Inclusion Initiative.

Esta responsável acrescenta à publicação Variety que "a minha suspeita é que existe um certo preconceito" dentro da organização responsável pelos Globos de Ouro, sugerindo que "os anunciantes devem ponderar" (a cerimónia é transmitida pelo canal NBC), recordando que "a pressão externa" tem sido eficaz para provocar mudanças em grupos como os que atribuem os Grammys [música] e Óscares.

O grupo Time’s Up, que surgiu após o movimento #MeToo, também se juntou à onda de críticas.

"Quem realiza os filmes é importante. Afeta as histórias contadas - e como - com implicações de longo alcance para as mulheres na indústria cinematográfica e na nossa sociedade em geral. Este ano, houve o dobro de filmes realizador por mulheres do que antes, com mais a caminho", recordou Rebecca Goldman.

"E, no entanto, como mostram as nomeações, as mulheres, especialmente as de cor, continuam a ser deixadas de lado por um sistema que as desvaloriza, dentro e fora do ecrã. A omissão das mulheres não é apenas um problema dos Globos de Ouro - é uma crise em todo o setor e é inaceitável", acrescentou, garantido que a organização "continuará a lutar até que as talentosas realizadoras obtenham as oportunidades e o reconhecimento que merecem".

Nenhum porta-voz da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood quis reagir a esta onda de reações negativas, mas o presidente Lorenzo Soria comentou à Variety ainda no local em que foram anunciadas as nomeações que "o que aconteceu é que não votamos por género, votamos por filmes e mérito".

Conhecendo as atuações anteriores, o tema não deverá passar ao lado de Ricky Gervais, o anfitrião da próxima cerimónia, que se realiza a 5 de janeiro.