"Trabalho em 'Megalopolis' há vinte anos, em que procuro fazer um filme sobre utopia, sobre o que é realmente o céu na terra", disse o realizador, numa conferência de imprensa na cidade francesa de Lyon, onde recebeu o Prémio Lumière de Carreira, do festival de cinema que encerra no domingo.

"Tenho um argumento, que se aproxima do que quero, em que abordo pela primeira vez [esse] objetivo", acrescentou o realizador de 80 anos, responsável pela saga de "O Padrinho", e filmes como "Cotton Club", "Rumble Fish - Juventude Inquieta" e "Tucker - Um Homem e o Seu Sonho".

Coppola, que disse ter abandonado "Megalopolis" após os ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, considera este projeto o "filme mais ambicioso, ainda mais ambicioso do que 'Apocalypse Now'", a obra em que abordou a Guerra do Vietname, vencedora da Palma de Ouro do festival de Cannes, em 1979.

"Creio que seria mais caro do que 'Apocalypse Now', que tinha um orçamento de 30 milhões de dólares [cerca de 27 milhões de euros], na época", acrescentou.

"Esse é o problema", reconheceu: é um filme "em 'escala Marvel'" em termos de produção. E acrescentou: "Tenho que encontrar uma maneira de chegar lá".

De acordo com Coppola, "Megalopolis" fala de um arquiteto que procura construir uma visão utópica de Nova Iorque, destruída por um cataclismo. É a história "de um homem que tem uma visão do futuro", em "conflito" com "tradições do passado", que é também "uma história de amor".

"Sempre quis filmar uma grande história de amor e nunca o fiz, mas gostaria de fazê-lo antes de sair de cena", disse aos jornalistas o realizador de "Do Fundo do Coração".

Confrontado com as declarações de Martin Scorsese, seu contemporâneo, do mesmo grupo de 'movie brats' do final dos anos de 1960, sobre os filmes de super-heróis, não serem exatamente cinema, Coppola concordou.

"O cinema deve trazer-nos conhecimento, inspiração. Não creio que se retire algo de um filme que é sempre igual", concluiu.

"Martin foi correto quando disse que não era cinema. Não disse que era desprezível. Disse que não era cinema. É o que eu digo", concluiu.

A presença portuguesa no Festival Lumière de Lyon residiu no filme coletivo "As Armas e o Povo", sobre a revolução de Abril de 1974, restaurado pela Cinemateca Portuguesa.

"As Armas e o Povo" é um dos exemplos do cinema militante português realizado pelo então denominado Coletivo dos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica, com a participação de profissionais como o diretor de fotografia Acácio de Almeida, os realizadores Fernando Lopes, Alberto Seixas Santos e Fernando Matos Silva, o produtor António da Cunha Telles e o cineasta brasileiro Glauber Rocha.

O filme foi rodado nos dias 25 de Abril a 01 de Maio de 1974, com imagens das ruas, nos dias seguintes à revolução, das "grandes movimentações de massas aos discursos de Mário Soares e Álvaro Cunhal, e à libertação dos presos políticos".

No entender da Cinemateca, que editará o filme em DVD, "As Armas e o Povo" constituem "um manifesto sobre a relação entre cinema e política, não apenas como mero difusor dos acontecimentos, mas sobretudo como participante ativo do ato revolucionário".

Lyon, que acolheu os pioneiros Louis e Auguste Lumière, está historicamente ligada aos primórdios do cinema.

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