José Padilha regressou na segunda-feira (19) ao Festival de Berlim com o seu último filme, "Operação Entebbe", que retrata o célebre sequestro do avião da Air France em 1976, mas evita limitar-se à violência do crime e dá voz a todas as partes do conflito israelita-palestiniano.

Dez anos depois de levar o Urso de Ouro da mostra berlinense com "Tropa de Elite", o cineasta apresentou - fora da mostra competitiva -, uma nova versão cinematográfica da operação israelita que permitiu libertar a centena de reféns mantidos num terminal de um aeroporto de Uganda por militantes pró-palestinianos, entre eles dois alemães marxistas.

O ator Daniel Brühl ("Adeus, Lenine") e a britânica Rosamund Pike ("Gone Girl") protagonizam o filme, 40 anos depois de Kirk Douglas, Anthony Hopkins e Elizabeth Taylor serem dirigidos por Marvin J. Chomsky no telefilme "Vitória em Entebbe".

Mas Padilha quis ir além da versão militar e colocar-se na pele de quem decidiu lançar a operação de resgate, isto é, o então primeiro-ministro israelita, Yitzhak Rabin, mais inclinado a negociar do que o seu ministro da Defesa, Shimon Peres, assim como quem executou o sequestro para defender a causa palestiniana.

"Os terroristas são humanos"

As dúvidas e contradições dos sequestradores e o apego crescente de um deles aos passageiros permitem a Padilha explorar a consciência dos que são considerados, segundo recorda o filme no início, "terroristas" pelos israelitas e "lutadores pela liberdade" pelos palestinianos.

"Se retratasse os terroristas como se não fossem humanos, porque o são, embora estejam a fazer algo terrível e indesculpável, estaria maluco", disse Padilha durante a conferência de imprensa em Berlim, quando questionado sobre a "reação violenta" que o seu filme poderia suscitar.

O avião da Air France, que voava entre Tel Aviv e Paris, foi sequestrado com 250 pessoas a bordo em 27 de junho de 1976 e desviado para o aeroporto de Entebbe, visto que em Uganda os sequestradores contavam com o beneplácito das autoridades.

Boa parte dos passageiros foi libertada, enquanto uma centena - a maioria judeus e tripulantes - foi feita refém durante sete dias, até ser libertada pelas forças de elite de Israel, cujo governo fez crer que estava disposto a negociar o pedido de libertação de presos palestinianos.

Para Padilha, o filme ilustra até que ponto é "difícil negociar" para as autoridades israelitas e palestinianas. Embora alguns estejam dispostos, "não podem" porque tem um grande custo político, disse o realizador.

"E isto continua sendo assim hoje em dia", acrescentou, em alusão à ausência de negociações entre as duas partes.

Na sua apresentação à imprensa, o também realizador da série "Narcos" contou com a presença de um refém-chave, o engenheiro francês Jacques Lemoine, que fazia parte da tripulação do avião sequestrado.

"A nossa opinião após ver o filme foi unânime", entre os que viveram esse evento traumático 42 anos atrás. "Corresponde muito bem ao que sucedeu".

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