Arranca hoje em Lisboa a 9ª edição 8 1/2 Festa do Cinema Italiano.

Em 2016 serão exibidos 40 filmes, contando com programações paralelas dedicas à música, literatura, cultura e gastronomia.

Na capital a mostra decorre até 7 de abril e para além dos espaços tradicionais, como o cinema São Jorge e a Cinemateca Portuguesa, este ano vai abranger as salas da UCI do El Corte Inglés. Este é o pontapé de partida para um périplo por mais 13 cidades portuguesas e, a meio do ano, eventos em Angola, Moçambique e Brasil.

Expansão

De uma pequena mostra no cinema Nimas com poucos filmes, a Festa foi crescendo em ambição e estatura.

A sua entidade organizadora, a Il Sorpasso, foi descobrindo um interesse genuíno do público português pelo cinema italiano – mudando a seguir para o cinema São Jorge e investindo em eventos cada vez mais complexos e ambiciosos.

“Foi um crescimento ponderado”, diz o diretor Stefano Savio, desde a primeira edição à frente da Festa. “Aos poucos fomos saindo de um nicho de público de festivais para algo mais genérico”. O número de filmes também é o maior de sempre. “Já estamos preocupados se haverá público para isso!”, brinca.

Um passo significativo neste movimento de crescimento é o desejo de contornar o restrito sistema de distribuição comercial em Portugal. Neste sentido, a Il Sorpasso vem esboçando desde 2013 iniciativas de lançar alguns dos seus títulos no país.

Enquanto a própria circulação do festival por 14 cidades acaba por realizar numa escala menor esse trabalho, a entidade vai distribuir em sala estes dois títulos da sua programação.

Ousadias: O Cinema de Autor

“Per Amor Vostro”, que Savio confessa ser um dos seus prediletos, será uma estreia nas salas graças à Il Sorpasso.

O filme, a ser lançado por cá com o título de “Anna”, vem de uma bem-sucedida trajetória que começou pelo prémio de Melhor Atriz para Valeria Golino no último Festival de Veneza. Misturando experimentalismos estilísticos (preto-e-branco, diferentes ritmos e recursos narrativos) com outros géneros (animação, musical), a obra de Giuseppe Gaudino conta a história de uma mulher em enormes dificuldades afetivas e financeiras.

Também distribuído pela Il Sorpasso será “Lo Chiamavano Jeeg Robot”, de Gabriele Mainetti, uma proposta à partida difícil de concretizar que é uma mistura de filmes de super-heróis, com o seu grau de infantilidade intrínseco, com a dureza do cinema policial italiano.

No mais, a Festa reforça a sua vocação autoral com a sua secção competitiva, onde se destaca “A Espera”, de Piero Messina, uma obra fortemente visual marcada pela relação entre uma mãe enlutada (Juliette Binoche) com a namorada do filho (Lou de Laage) que não sabe o que aconteceu com ele.

Já da secção Altre Visione, que dava conta dos projetos mais experimentais (ou bizarros) do cinema italiano, esse ano não surge formalmente, mas traz um título remanescente – “Bagnoli Jungle”, de Antonio Capuano. A obra vem do Festival de Veneza, tal como “Pecore in Erba”, de Alberto Caviglia, outro dos trabalhos destacados pelo diretor/programador – um 'mockumentary' que ironiza o antissemitismo.

Ousadias: O Cinema Generalista

O crescimento da Festa acompanha a própria expansão do cinema italiano além-fronteiras, a estas alturas já esboçando passos no sentido de recuperar timidamente um espaço que já foi seu há algumas décadas. “Este ano trazemos produções faladas em inglês, que já foram pensados em termos de mercados globais”, reforça Savio.

É o caso de “O Conto dos Contos”, filme de abertura, estreado no Festival de Cannes, que traz o novo trabalho de um Matteo Garrone que começou mais experimental (o filme “Gomorra”) e amenizou o tom com “Reality”.

“Foi o primeiro filme que agarrámos”, diz Savio. No elenco estão atores como Salma Hayek, Vincent Cassel, John C. Reilly e Alba Rohrwacher.

Outro projeto com elenco internacional (Tilda Swinton, Dakota Johnson, Ralph Fiennes) é “Mergulho Profundo”, de Luca Guadagnino, 'remake' de um 'thriller' protagonizado por Romy Schneider e Alain Delon em 1968, “A Piscina”.

Mas segundo o diretor da Festa, a maior ousadia nesta progressão é o filme de encerramento, “Quo Vado?”, de Gennaro Nunziante, uma comédia popular que representa um caso único na Europa depois de ter massacrado nas bilheteiras italianas as franquias 'hollywoodianas'.

“Vamos ver como o público vai reagir…”, diz.

Também próximo aos limites do “comercial” está o 'thriller' “Suburra”. O seu realizador, Stefano Sollima, vem da série televisiva "Gomorra", um sucesso que inspirou este novo trabalho e que, novamente, traz um panorama cru do mundo dos negócios e da politica do seu país.. "Suburra", onde a ação transfere-se de Nápoles para Roma, já teve seus direitos comprados pela Netflix para transformá-lo na primeira série de origem italiana a ser produzida nos Estados Unidos.

Os Mestres

E como não se faz um festival de cinema italiano sem aludir ao seu glorioso passado, Federico Fellini e Ettore Scola são os homenageados este ano – o primeiro com uma cópia restaurada do seu clássico absoluto (“Fellini 8 1/2”) e o segundo com uma ampla retrospetiva.
Scola, um dos maiores nomes da Itália, faleceu em 2015. Conforme assinala o diretor da mostra, ele “foi o último da geração dos grandes da comédia italiana capaz de abordar a história do país de maneira subtil e, ao mesmo tempo, feroz. Ele também conseguiu sair do espectro social e apresentar uma perspetiva mais política – ao mesmo que tempo acessível. Ele fez um cinema inesquecível”.

Do realizador a Festa lembra clássicos como “Feios, Porcos e Maus”, “Tão Amigos que nós Éramos” e “Um Dia Inesquecível”, entre outros.

 “A Vida É Bela”, de Roberto Begnini, será outra obra relembrada.