Cinco estúdios portugueses de cinema de animação vão mostrar os bastidores de vários filmes, entre inéditos e premiados, numa exposição que é inaugurada na sexta-feira no Museu da Marioneta, em Lisboa.

“Marionetas que guardam o tempo” é uma exposição organizada pelo Monstra – Festival de Animação de Lisboa em parceria com o Museu da Marioneta, reunindo cenários, adereços, figuras, personagens de vários filmes de produtoras que se têm destacado nos últimos trinta anos.

Na sala de exposições estão filmes da Animais, Praça Filmes, Sardinha em Lata, BAP Animation Studios e Cola Animation.

“Estamos a falar de grandes estúdios e de grandes autores, que estão representados nesta exposição. Acho que são a nata daquilo que se faz no cinema de animação português e que na maioria é muito bom e as pessoas não têm muito essa consciência”, afirmou à agência Lusa o diretor do Monstra, Fernando Galrito, numa visita guiada à exposição.

A mostra, que ficará patente até 23 de abril, desvenda os minuciosos cenários e as marionetas feitas de papel para a curta-metragem “Casa para guardar o tempo”, de Joana Imaginário e produzida pela Sardinha em Lata, que terá estreia mundial em março no festival Monstra.

Também estão lá dois cenários da curta-metragem “O casaco Rosa”, de Mónica Santos, produzida pela Animais, em que as personagens são casacos e peças de vestuário em miniatura, representando uma história sobre a ditadura e a repressão do Estado Novo.

Do BAP Studios está presente o filme “Das gavetas nascem sons”, de Victor Hugo Rocha, através de uma peça de mobiliário de grandes dimensões, composta por 42 gavetas que produzem sons e que podem ser manuseadas pelo público.

A cooperativa Cola Animation – que produziu o filme “Ice Merchants”, de João Gonzalez, candidato aos Óscares – tem na exposição algumas das marionetas e cenários de filmes, telediscos e trabalhos de publicidade assinados por Bruno Caetano e Telmo Romão.

Esta retrospetiva pelo cinema de animação português feito em animação de volumes, em ‘stop motion’, conta ainda com várias produções assinadas por José Miguel Ribeiro, como “Papel de Natal” (2014), “Estilhaços” (2016) e “A Suspeita” (1999).

Segundo Fernando Galrito, a exposição pretende dar visibilidade a produtoras cujos filmes somam dezenas de prémios internacionais e têm uma qualidade artística que merece ser vista pelos espectadores.

“O cinema de animação português é aquele que arrecada quase 70% dos prémios de todo o cinema português. […] Seria interessante que as salas de cinema olhassem para as curtas-metragens e que chegassem ao grande público”, disse.

O programador voltou a defender que a produção de cinema de animação não pode depender apenas de dinheiros públicos, e que o tecido empresarial também pode investir nesta área.

“Acabámos de fazer duas longas-metragens [‘Nayola’ e ‘Os demónios do meu avô’] e o que é que aconteceu? Como não há continuidade, o dinheiro não chega para termos já outras duas ou três a começarem a ser feitas, uma boa parte destas pessoas foi trabalhar para o estrangeiro. Todo o conhecimento que se adquiriu nestas longas-metragens vai ser aproveitado por outros”, lamentou.

“Marionetas que guardam o tempo” é uma das exposições da programação deste ano do Monstra – Festival de Animação de Lisboa, que decorrerá de 15 a 26 de março.

Este ano, o festival também se associa ao centenário do primeiro filme de animação português, “O pesadelo do António Maria” (1923), de Joaquim Guerreiro; uma efeméride que dará o mote a outra exposição, apenas de desenhos, que estará patente na Cinemateca Portuguesa.