Ao contrário de outros grandes eventos internacionais ligados às artes, o Festival de Cannes não foi um dos certames cancelados nos últimos dias devido às repercussões do coronavírus. Mas de acordo com a revista Le Point, a 73ª edição do evento, a decorrer entre 12 e 23 de maio de 2020, não irá concretizar-se.

Embora a decisão não deva ser tomada até 15 de abril, data de uma reunião entre os organizadores, a cidade e os serviços estatais, a publicação francesa cita um membro do conselho de administração que avança a improbabilidade da realização do festival.

"Será muito difícil, para não dizer impossível, selecionar filmes vindos da China, Coreia, Irão, Itália e, sem dúvida, de cinquenta países, sabendo que os atores e realizadores não poderão visitar o certame. Exibir filmes num auditório de 2000 lugares [o grande auditório Louis-Lumière tem 2300 lugares] não será autorizada e o menor sinal de alerta preocupará os espectadores. E quanto a Spike Lee, presidente do júri? Conhecemos a hipersensibilidade de Hollywood em questões de higiene. Não o vejo a passar quinze dias no meio de uma multidão, cujo estado de saúde não é controlado", sublinhou o responsável não identificado à revista.

Nos últimos dias, o governo francês proibiu concentrações de 1000 ou mais pessoas, o que além das sessões afetaria o Marché do Film, por onde "passaram 12527 participantes de 121 países e representantes de 5528 empresas que percorreram os corredores do Palais des Festivals" em 2019, lembra a Le Point.

Spike Lee

A organização do certame, no entanto, recomenda que se espere até haver uma decisão oficial. "Apesar de alguns títulos sensacionalistas, não há novidades do Festival de Cannes. O evento, que será realizado de 12 a 23 de maio, encontra-se a estudar com atenção e clareza o desenvolvimento da situação nacional e internacional com atenção e lucidez, em colaboração próxima com a cidade de Cannes e o CNC. Quando chegar a altura, em meados de abril, será tomada uma decisão conjunta", declarou um responsável ao site IndieWire.

A revista especializada Variety revelou na passada terça-feira que o Festival de Cannes se recusou a assinar recentemente um seguro de cancelamento que cubra as epidemias. "Propuseram cobrir apenas cerca de dois milhões de euros, enquanto o nosso orçamento chega a 32 milhões", afirmou o presidente do evento, Pierre Lescure. O responsável acrescentou que o festival tem um fundo de doações que lhe permitiria enfrentar "pelo menos um ano sem rendimentos".

"Estamos razoavelmente otimistas, confiantes de que a epidemia atingirá o pico no final de março e que respiraremos um pouco em abril", disse ainda ao jornal francês "Le Figaro". "Mas somos conscientes. Se não for possível, cancelaremos", enfatizou.

Em Cannes, o Mip TV, o segundo maior evento profissional de televisão do mundo, agendado para decorrer de 30 de março a 2 de abril, foi cancelado nos últimos dias.

O novo coronavírus responsável pela pandemia de COVID-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 5500 mortos em todo o mundo.

O número de infetados ultrapassou as 143 mil pessoas, com casos registados em mais de 135 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 169 casos confirmados. Até à manhã deste sábado, 14 de março, contavam-se 79 mortos e 3661 infetados em França.

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