Um ano depois de ter fechado portas, por causa de um processo de falência da Socorama, o espaço do cinema Londres será alvo de obras de remodelação para a instalação de um estabelecimento comercial com sócios chineses, num contrato por dez anos.

O representante do proprietário do antigo cinema explicou à agência Lusa que o contrato para a loja chinesa só avançou «depois de dez meses de conversações goradas» com vários organismos e pessoas ligadas à cultura para que o Londres tivesse ainda um aproveitamento de caráter cultural.

Em causa terá estado o elevado custo das obras profundas que o espaço precisa, onde funcionaram duas salas de projeção e zona de restauração. «Quando a administração da Socorama tomou a decisão de vender o recheio, tirou cadeiras, ecrãs, projetores, instalação elétrica e o espaço ficou num estado terrível», afirmou aquela fonte.

Sem adiantar data de abertura do espaço comercial, porque as obras ainda não foram feitas, o representante do proprietário referiu que o valor da renda está abaixo do que é praticado nesta zona da cidade («menos de seis euros por metro quadrado»).

Contactado pela agência Lusa no final de dezembro, o administrador da Socorama, João Paulo Abreu, afirmou que o Londres tinha fechado «definitivamente como cinema», explicando na altura que a decisão estava relacionada com o arrendamento do espaço e com a atualização do valor das rendas..

Em declarações à agência Lusa no início deste mês, o presidente da junta de freguesia do Areeiro, Fernando Brancaamp, lamentava que o antigo cinema desaparecesse do bairro, mas desconhecia oficialmente se daria lugar a uma loja.

Nas últimas semanas foram lançadas duas petições em defesa do cinema, mas nenhuma deverá ter efeito, uma vez que o contrato está assinado. Uma das delas foi lançada pelo movimento MaisLisboa, que propõe a criação de um modelo cooperativo com a sociedade civil para gerir o espaço.

A outra petição foi lançada pelo Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma, apelando à existência de um pólo cultural no bairro. O representante do proprietário do Londres afirmou que «os comerciantes acordaram tarde» ao alegarem que «não sabiam» que havia hipótese de realizar um negócio.

Considerado uma das últimas salas em Lisboa a existir fora de centros comerciais, o cinema Londres foi inaugurado a 30 de janeiro de 1972, com o filme «Morrer de Amar», de André Cayatte. Com mais de mil metros quadrados de área, o Londres chegou a ser uma sala de bowling e uma discoteca.