O produtor de 57 anos mudou-se para o Porto, “em junho de 2018”, há um ano, em parte pelo “espírito nómada” e por estar “frustrado por viver em Londres”, depois de também ter passado por Nova Iorque.

“É cada vez mais caro e frustrante. Pensei que devia mudar-me para uma distância de Londres de duas horas, e com o avião estou a essa distância. Foi uma questão de estilo de vida, mas já venho há tanto tempo ao festival [FEST - Novos Realizadores Novo Cinema, em Espinho] que sei andar na região e é um sítio lindo de viver”, contou.

A mudança coincidiu, de alguma forma, com ter recebido um guião da argumentista britânica Andrea Man, chamado “Fado”, que o produtor descreve como “uma comédia romântica e drama sobre uma mulher nos seus 50 anos”.

“Está a celebrar o 30.º aniversário de casamento quando descobre que o marido teve um caso. Ela usa isso como uma oportunidade para rever a vida, em vez de ficar esmagada”, revelou.

Para o produtor, que tem trabalhado a par com a Fado Filmes (a produtora portuguesa liderada por Luís Galvão Teles), em “Fado”, o título da obra, este é “um guião fantástico, encantador e charmoso, em que a protagonista se apaixona de novo por ela mesma, no processo de se apaixonar por Lisboa e pelo fado”.

“É um filme positivo e inspirador, sem ser sentimental. É engraçado, e usa como pano de fundo uma das cidades mais bonitas da Europa”, acrescentou.

Esta história de uma “mulher de meia idade a redescobrir-se e a descobrir a vida” vai começar a ser filmada “por volta de abril de 2020”, com a estreia pensada para o ano seguinte.

O britânico recebeu duas nomeações para os Globos de Ouro norte-americanos, em ambos os casos por filmes de Woody Allen, “Match Point”, em 2006, e “Vicky Cristina Barcelona”, que venceu em 2009.

Antes de chegar ao cinema, trabalhou como banqueiro devido à formação superior no campo do direito e da economia, entrando para o financiamento cinematográfico em 1993, trabalhando desde então com profissionais e cinematografias de vários países.

Produtor quer jovens cineastas portugueses atentos a mercado internacional

O produtor inglês Gareth Wiley disse à Lusa que espera que “a nova geração portuguesa” de realizadores de cinema possa pensar “no sentido internacional” nas suas produções, e fugir a uma “resistência contra filmes comerciais”.

“Existe uma tendência, entre os realizadores portugueses com quem tenho falado, para resistirem a filmes comerciais, e uma tendência a favor de obras intelectuais e ‘art house’”, explicou o produtor de “Match Point” e “Vicky Cristina Barcelona” à Lusa, em entrevista à margem do FEST - Novos Realizadores Novo Cinema, em Espinho.

Para o produtor, que orientou uma oficina, com jovens realizadores no festival de Espinho, a que volta de forma frequente desde há sete anos, os jovens profissionais portugueses devem “estar dispostos a fazer filmes comerciais, para uma audiência mundial”, mesmo reconhecendo que o lado mais intelectual “está na essência do cinema português”, até pela influência de Manoel de Oliveira (1908-2015).

“No cinema, somos contadores de histórias e, num filme que apele ao espírito fundamental do ser humano, não é importante se é falado em português ou dinamarquês. Uma comédia, um drama ou um filme de terror, uma obra portuguesa pode viajar pelo mundo, porque muitos mercados dobram os filmes de qualquer forma”, afirmou, considerando, em entrevista à Lusa, que a língua não é uma barreira.

O britânico, fundador da plataforma de apoio à produção Screen Advantage, apelou à “nova geração portuguesa para que pense no sentido internacional, em vez de olhar só para o mercado doméstico”.

Wiley, de 57 anos, continua a voltar ao FEST, um festival “inspirador e fantástico”, no qual se juntam “profissionais experientes da indústria que se misturam rápido e facilmente com jovens realizadores”, para quem esta é muitas vezes “uma primeira plataforma”.

“Também serve para nós, experientes, nos lembrarmos de porque é que entrámos neste campo quando começámos, para partilhar conhecimento”, acrescentou.

Na plataforma que criou, Screen Advantage, e que “permite organizar os planos de financiamento dos realizadores e explicar a potenciais investidores o possível retorno de um investimento”, há já “subscritores de 18 países e 22 mil milhões de dólares disponíveis”, por parte de investidores parceiros.

Numa era em que “nunca foi tão fácil fazer e distribuir um filme”, devido às plataformas de ‘streaming’, o produtor considera igualmente que “nunca foi tão importante para um criador se apresentar de forma profissional ao angariar fundos”.

“Como é que te notabilizas e elevas acima da média? Como é que sais do patamar do micro orçamento? Muitos realizadores são criativos sem conhecimentos em finanças, então essa organização é importante e pode acontecer na plataforma”, disse à Lusa.

O britânico recebeu duas nomeações para Globos de Ouro norte-americanos, em ambos os casos por filmes de Woody Allen, “Match Point”, em 2006, e “Vicky Cristina Barcelona”, que venceu em 2009.

Antes de chegar ao cinema, trabalhou como banqueiro, devido à formação superior no campo do Direito e da Economia e Finanças. Entrou para o financiamento cinematográfico em 1993, trabalhando desde então com profissionais e cinematografias de diferentes países.

O FEST – Novos Realizadores Novo Cinema termina no dia 01 de julho, depois de ter arrancado a 24 de junho e ter trazido a Portugal realizadores, produtores, argumentistas e outros profissionais da indústria do cinema de dezenas de países, para oficinas, exibições e outras sessões de formação e apresentação.