"Origin" é o primeiro filme de uma realizadora negra norte-americana na corrida ao Leão de Ouro nos 80 anos do festival de cinema mais antigo do mundo.

Ava DuVernay, do vencedor do Óscar "Selma", não se esqueceu de assinalar esse feito histórico na conferência de imprensa esta quarta-feira no Festival de Veneza, recordando que os cineastas negros ouviram vezes sem conta que não valia a pena terem os seus filmes nestes eventos internacionais porque "as pessoas que adoram filmes nas outras partes do mundo não querem saber das nossas histórias ou dos nossos filmes".

"É algo que nos dizem com frequência: vocês não podem participar de festivais internacionais de cinema, ninguém virá", acrescentou.

"Origin" está na disputa pelo Leão de Ouro da 80ª edição do Festival de Veneza junto com outros 22 filmes. O festival termina no sábado.

"Não sei dizer quantas vezes me disseram: ‘Não concorra a Veneza, não vai entrar’. E este ano aconteceu algo que não acontecia há oito décadas", disse a cineasta de 51 anos.

"Agora que a porta foi aberta, espero e confio que o festival a deixará aberta", acrescentou.

O feito acontece com um filme liderado por Aunjanue Ellis-Taylor ("King Richard") e Jon Bernthal ("O Lobo de Wall Street", "Punisher"), que "narra a notável vida e obra da autora vencedora do Prémio Pulitzer Isabel Wilkerson ao investigar a génese da injustiça e descobre uma verdade oculta que nos afeta a todos”, resume a sinopse.

A história baseia-se num ensaio publicado por Isabel Wilkerson em 2020, um 'best-seller' que traça um paralelo entre as raízes do racismo nos EUA, na Alemanha nazi e no sistema de castas na Índia, de tradição milenar.

A realizadora também festejou o seu filme ser uma produção independente depois de começar por ser um projeto desenvolvido no sistema dos estúdios de Hollywood.

"Acho que não teríamos o elenco que tivemos se tivesse permanecido no sistema dos estúdios. É um lugar onde trabalhei e fiz projetos dos quais me orgulho, mas há realmente um aspeto de controlo sobre quem pode interpretar o quê. E há uma ideia sobre quem rende dinheiro, chama a atenção e, às vezes, isso entra em conflito com quem pode ser a melhor pessoa para o papel. A Aunjanue Ellis-Taylor foi a melhor pessoa para este papel", explicou à imprensa.

Ava DuVernay fez elogios ao elenco que ainda inclui Niecy Nash-Betts, Vera Farmiga, Audra McDonald, Nick Offerman, Blair Underwood, Connie Nielsen, Emily Yancy, Jasmine Cephas-Jones, Finn Wittock, Victoria Pedretti, Isha Blaaker e Myles Frost.

"Este elenco está povoado por atores que não são, entre aspas, superestrelas em Hollywood. Está povoado por atores que trabalham com sangue, suor e lágrimas e são muito respeitados. Todo o elenco está recheado deles e juntos, podem ver que brilham como estrelas", notou.

"Portanto, acho que entra nessa ideia do valor que damos a certos artistas com base no que dizem as corporações sobre quem é mais valioso e quem não é. E, graças a Deus, fizemos este filme de forma independente e pudemos escolher todos a dedo", concluiu.