Os filmes “Moonlight” e “Primeiro Encontro” foram os principais premiados pelo Sindicato dos Argumentistas norte-americanos, durante a cerimónia que decorreu no domingo à noite, em Los Angeles (EUA).

Os prémios, atribuídos a uma semana dos Óscares, resultam da votação de 1.200 membros do sindicato (Writers Guild, em inglês) e foram anunciados no hotel Beverly Hilton em Los Angeles.

O galardão de “Moonlight" foi atribuído pelo trabalho original do argumentista Barry Jenkins, e ficou à frente dos argumentos dos favoritos "Manchester by the Sea" e " La La Land: Melodia de Amor". Os outros nomeados nesta categoria eram "Hell or High Water - Custe o Que Custar!" e "Loving".

O filme, baseado na peça “In Moonlight Black Boys Look Blue”, está nomeado para oito Óscares.

O argumento adaptado do 'thriller' de ficção científica “Primeiro Encontro" (“Arrival” no original), também nomeado para oito Óscares e escrito por Eric Heisserer, surpreendeu ao ultrapassar os de filmes como “Animais Noturnos", “Vedações” e “Elementos Secretos". Estava ainda nomeado "Deadpool".

O prémio para melhor argumento de documentário foi entregue a Robert Kenner e Eric Schlosser pelo filme “Command and Control”.
Nas categorias televisivas, “The Americans” venceu o prémio de melhor série dramática, pelo argumento de Peter Ackerman, Tanya Barfield, Joshua Brand, Joel Fields, Stephen Schiff, Joe Weisberg e Tracey Scott Wilson.

A série “Atlanta” venceu o prémio de melhor série cómica, pelo trabalho dos argumentistas Donald Glover, Stephen Glover, Jamal Olori, Stefani Robinson, Paul Simms, e conquistou ainda o galardão na categoria de melhor nova série.

No que toca ao melhor episódio dramático, o Sindicato dos Argumentistas escolheu “The Trip” (da série em primeira temporada “This Is Us”), escrito por Vera Herbert. Na comédia venceu “Kimmy Goes on a Playdate!” (de “Unbreakable Kimmy Schmidt”), escrito por Robert Carlock.

Mais do que os Globos de Ouro, distribuídos pela imprensa internacional, os prémios dos diferentes sindicatos profissionais do cinema norte-americano (atores, realizadores, produtores e argumentistas), cujos membros fazem frequentemente parte dos eleitores nos Óscares, são indicadores fiáveis na corrida às preciosas estatuetas.

A cerimónia de entrega dos Óscares está agendada para 26 de fevereiro.

Oliver Stone e Aaron Sorkin não fugiram à polémica política

Donald Trump não estava na cerimónia, mas foi como se estivesse, desde logo graças aos anfitriões da cerimónia (Patton Oswalt em Los Angeles e Lewis Black em Nova Iorque), mas também graças a Oliver Stone e Aaron Sorkin, que foram distinguidos pelas suas carreiras.

Ao apresentar o prémio ao primeiro, que começou em Hollywood como argumentista, James Woods, o seu ator de "Salvador" e "Nixon", disse "Uma vez, o Oliver teve a  temeridade de me perguntar 'Achas que devo simplesmente reformar-me?' e eu disse 'Estás a brincar comigo? Trump acabou de ser eleito. Agora podes continuar para sempre'"

Estava dada a deixa para um discurso mais virado para a nova atual situação política nos EUA.

"Estaria a ser negligente se não vos lembrasse, principalmente aos jovens argumentistas, que se pode ser crítico do vosso governo e da vossa sociedade", começou o vencedor de três Óscares.

“Não têm de se integrar. Agora está na moda atirar nos Republicanos e [Donald] Trump e evitar os Obama e Clinton. Mas lembrem-se disto: nas 13 guerras que começámos nos últimos 30 anos e no muito dinheiro que gastámos e as centenas de milhares de vidas que desapareceram no planeta, lembrem-se que não foi um líder mas um sistema, tanto Republicano como Democrata. É um sistema que se tem perpetuado sob o disfarce de que são guerras justificáveis em nome da nossa bandeira".

"É importante recordar: se acreditam no que estão a dizer e podem manter o rumo, podem fazer a diferença", acrescentou.

Também Aaron Sorkin, o criador de "Os Homens do Presidente", não está muito contente com a atual situação do seu país e ao receber um prémio pela carreira em televisão intitulado "Paddy Chayefsky Laurel Award", o tom do discurso parecia o de uma das personagens deste lendário argumentista no filme "“Network: Escândalo na TV" (1976).

"Foi-nos dito que as elites das costas [de Los Angeles e Nova Iorque, os extremos dos EUA] são menos do que os verdadeiros americanos e que temos menos ligação à realidade. Se acham incrível que viver e trabalhar nas duas maiores cidade  na América vos faça menos do que um verdadeiro americano, não são vocês que estão desligados da realidade", começou.

Sorkin continuou com a defesa dos refugiados de guerra e a crítica aos que negam as mudanças climáticas, antes de ridicularizar a afirmação de Donald Trump de que mais de três milhões de pessoas votaram ilegalmente nas eleições presidenciais de 2016, acrescentando que era ele que "estava desligado da realidade".

Inevitável foi a defesa da comunicação social por parte do criador ainda da série "The Newsroom", que Trump elegeu como o "inimigo" do povo americano na sexta-feira, antes de deixar uma palavra de esperança.

"Então, o que podemos fazer? Na verdade, muito. Porque o sistema mais poderoso para fazer passar uma ideia é uma história. Os homens e mulheres nesta sala e noutra igual em Nova Iorque são contadores americanos de histórias e viemos de todos os lados. Somos velhos e novos, negros e brancos, homo e heterossexuais, ricos e pobres, e sim, liberais e conservadores", defendeu.