Os atores de Hollywood aguardaram ansiosamente esta quarta-feira a decisão do seu sindicato sobre a greve, bem no auge da temporada de grandes sucessos de bilheteira da indústria cinematográfica.

O Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) já concordou com uma extensão das negociações com estúdios como a Netflix e a Disney, que agora convocaram mediadores federais para ajudar a resolver o impasse.

As negociações concentram-se em melhores salários e outros benefícios, além de definir o uso da inteligência artificial na produção de filmes e programas de televisão.

Se o último prazo da meia-noite de quarta-feira (08h00 de quinta-feira em Lisboa) se esgotar sem um acordo ou outro prolongamento, os atores farão piquetes, juntando-se aos argumentistas que já marcham fora dos estúdios há mais de dois meses.

Uma "greve dupla", não vista em Hollywood desde 1960, paralisaria quase todas as produções de cinema e televisão dos EUA.

Isto também impediria que as estrelas promovessem alguns dos maiores lançamentos do ano, como "Oppenheimer", de Christopher Nolan - que terá a antestreia nos EUA em Nova Iorque na segunda-feira - no momento em que a indústria tenta recuperar dos anos de pandemia.

A gigantesca reunião anual da cultura pop da Comic-Con em San Diego na próxima semana pode ficar sem as suas estrelas, enquanto um lançamento agendado na passadeira vermelha este fim de semana na Disneyland para o novo filme "Mansão Assombrada" pode ser reduzido a um "evento privado para fãs".

Tal é a preocupação em Hollywood que poderosos chefes de agências - que atuam como guardiões dos "talento" mais radiantes de Tinseltown - procuraram os líderes do SAG, oferecendo-se para ajudar nas negociações.

Os 160 mil atores e 'performers' do SAG deram uma pré-autorização de greve à sua liderança se um acordo não for fechado com os estúdios.

Embora a greve dos argumentistas já tenha reduzido drasticamente o número de filmes e programas em produção, uma paralisação dos atores fecharia quase tudo.

Alguns 'reality shows', animações e 'talk shows' podem continuar.

Na terça-feira, a Fox revelou uma programação de outono cheia de séries improvisadas, como "Kitchen Nightmares" e "Lego Masters".

Mas as séries populares que devem regressar à televisão este ano enfrentam longos atrasos. E, se as greves continuarem, futuros filmes de grande sucesso também serão adiados.

Até mesmo a cerimónia dos prémios Emmy, a versão televisiva dos Óscares, marcada para 18 de setembro, está a ponderar um adiamento para novembro ou mesmo para o ano que vem.

Uma greve de atores significaria um boicote à cerimónia por parte das estrelas.

O tempo está esgotar-se

Na terça-feira, a SAG-AFTRA disse que concordou com o "pedido de última hora" dos estúdios para levar mediadores federais para desbloquear as negociações, enquanto expressava ceticismo sobre os esforços de boa fé do outro lado.

O sindicato afirmou no seu comunicado que os estúdios "abusaram da nossa confiança e prejudicaram o respeito que temos por eles neste processo".

"Não estamos confiantes que os estúdios tenham qualquer intenção de negociar um acordo", destacou, notando que "tiveram tempo mais do que suficiente".

Caso as negociações falhem, será a primeira vez que todos os atores e argumentistas de Hollywood entrarão em greve simultaneamente desde 1960, quando o ator (e futuro presidente dos EUA) Ronald Reagan liderou um confronto que acabou por forçar grandes cedências dos estúdios.

Como os argumentistas, que já passaram 11 semanas nos piquetes, os atores exigem salários mais altos para combater a inflação e garantias para os seus meios de subsistência futuros.

Além dos salários quando estão ativamente a trabalhar, os atores recebem pagamentos chamados de "resíduos" sempre que um filme ou programa em que participaram é exibido num canal terrestre ou por cabo - particularmente úteis quando os artistas estão entre os projetos.

Mas hoje, plataformas de streaming como Netflix e Disney+ não divulgam os números de exibição dos seus programas e oferecem a mesma taxa fixa insignificante para tudo ns suas plataformas, independentemente da sua popularidade.

Para dificultar ainda mais o panorama, há a questão da inteligência artificial. Tanto os atores como os argumentistas querem garantias para regular o seu uso futuro, mas os estúdios até agora recusaram-se a ceder.