"Fear the Walking Dead", do canal AMC (“Breaking Bad” e “Mad Men”), é uma série de Robert Kirkman, o criador do universo “The Walking Dead” (um crédito partilhado nos comics juntamente com Tony Moore e Charlie Adlard).

A ação desenrola-se em Los Angeles no advento do surto de zombies. Fazendo parte da mitologia criada por Robert Kirkman, a nova série não é diretamente uma prequela ou um "spin-off" da série televisiva “The Walking Dead”.

Em termos cronológicos podemos afirmar que os eventos acontecem no mesmo período temporal em que o herói da série mãe, Rick Grimes (Andrew Lincoln), esteve em coma.

No início da série original, os espectadores não sabem o que se passou, apenas que, quando este acordou, o mundo estava virado do avesso. “Fear the Walking Dead” explora na primeira temporada precisamente esse caos civilizacional, o dia zero em que tudo começou, a calma antes da tempestade.

É uma história paralela de sobrevivência e metamorfose de personagens perante um mundo sem contemplações. No primeiro episódio, os autores brincam com as expectativas e a ansiedade dos espectadores e saem-se muito bem em diversas sequências onde esperamos o óbvio (leia-se, zombies).

O enredo dramático anda em torno do início de uma nova família. O protagonista, Travis Manawa (Cliff Curtis), é um professor de inglês divorciado com uma relação complicada com a sua ex-mulher e o filho. Travis começou a viver na casa da namorada, Madison Clark (Kim Dickens), a colega do liceu onde ambos trabalham. Madison tem dois filhos, Nick Clark (Frank Dillane) e Alicia Clark (Alycia Debnam-Carey), e a relação no núcleo familiar não é a mais fácil, apesar do esforço de Travis.

Alicia está cética com a entrada do namorado da mãe na família e Nick tem demasiados problemas de toxicodependência. É através de Nick que vemos em primeira mão o olho da tempestade. É interessante que as fragilidades deste personagem aliadas a uma cultura de desinformação e o caos da metrópole de Los Angeles, com o constante som de helicópteros e sirenes, criem um ambiente propício de alucinação e surrealismo.

Los Angeles substitui as florestas da Geórgia, da série original. Aqui, a cidade e a sua “fauna” tornam-se um personagem vivo e dão-nos a sensação de que o perigo pode surgir a cada esquina.

“Fear the Walking Dead” foi também criada por Dave Erickson (argumentista de “Sons of Anarchy”) que ocupa as funções de "showrunner" (direção de argumento). Os criadores pretendem que a série dure cinco a seis temporadas com cada época a ter o seu tema e a sua estrutura como fosse uma longa-metragem.

A primeira temporada conta com seis episódios e já foi renovada para uma segunda época com quinze episódios.

A direção de fotografia de Michael McDonough tem um visual idêntico à de “The Walking Dead”, com a utilização de filtros amarelos e um universo descolorido com ênfase no realismo. A música dos créditos iniciais pertence ao galardoado Atticus Ross (“A Rede Social”) e dilui-se numa orquestração musical que é perfeita para um registo de mistério e terror com a introdução de constantes sons atmosféricos.

O canal AMC não anda a dormir e pretende controlar futuramente os seus conteúdos: a produção e a distribuição da série ficam a cargo da casa mãe. Por exemplo, “The Walking Dead” é produzida pela AMC e exibida em Portugal pela FOX. O tiro de partida desta nova política de distribuição global com day-and-date é feita com “Fear the Walking Dead”, que irá estrear todos os episódios da série em simultâneo em 120 países entre a América do Norte, Europa, Ásia e América Latina, um modelo de futuro que traz aos canais de distribuição oficiais mais-valias e sobretudo público que não se dilui nos métodos alternativos de visionamento das suas séries favoritas.

“Fear the Walking Dead” tem os ingredientes para ser mais um evento global. A força da história é filtrada por personagens com carisma que vão sobreviver à natureza de um novo mundo enquanto se explora e fortalece a dinâmica e o desenvolvimento de personagens no seio de uma nova “família” num mundo pejado de zombies.

Preparem-se para uma excelente dose de drama e terror real e subliminar, uma série promissora para ver no canal AMC.

Jorge Pinto