A família de Cesária Évora, falecida há cinco anos, vai processar o colecionador Francisco Rocha, atualmente com uma exposição no Palácio do Povo, no Mindelo, por uso indevido da imagem da cantora.

Este admirador de Cesária Évora e detentor de quase quatro mil peças alusivas ou que pertenceram à cantora, foi autorizado pela autarquia de São Vicente a expor o seu espólio no Palácio do Povo, em dezembro passando, mantendo-se a mostra no local até hoje.

A entrada na mostra, que segundo disse Francisco Rocha à agência Lusa já foi visitada por mais de cinco mil pessoas, custa 100 escudos (cerca de 1 euro) para nacionais e 200 escudos (cerca de dois euros) para estrangeiros.

Em entrevista à agência Lusa, Janete Évora, neta da cantora, adiantou que já deu indicações à sua advogada para avançar com uma ação judicial contra Francisco Rocha.

"Não tem autorização para fazer a exposição nem para utilizar a imagem. Diz que adquiriu as peças, mas nunca explicou os detalhes nem tem o comprovativo da aquisição", disse Janete Évora.

A neta de Cesária Évora questionou também a autenticidade das peças, adiantando que existem na coleção várias "peças falsas", nomeadamente roupas.

"Claramente não eram da minha avó, porque ela nunca gostou de cores muito fortes, nem de flores, sempre preferiu tons mais escuros. Roupas de tamanho S, ela quando era mais nova era mais estilosa, mas nunca chegou a usar esse tamanho", disse.

Janete Évora explicou que logo que a exposição se iniciou falou com a Câmara, que autorizou a montagem da mostra, e disse ter recebido do presidente da autarquia a garantia de que iria interromper a exposição, o que não aconteceu.

"Estávamos nesse processo de espera, não está a resultar, entrámos em contacto com uma advogada e agora vamos colocar mesmo um processo. A advogada já está a elaborar o processo para darmos entrada", disse.

Para a neta de Cesária Évora, "a exposição não tem nenhuma dignidade" e é uma "competição direta" com o núcleo museológico porque fica num sítio mais central e tem um preço de entrada mais barato.

"Ele é um colecionador e tem todo o direito de ter as peças, mas não de as usar para fins lucrativos. Tem que provar como adquiriu as peças. Diz que comprou à minha mãe, mas acho que era muito improvável ela vender roupas, peças que não tinham tanto valor monetário, mas que têm um valor sentimental enorme", disse.

Janete Évora adiantou que o colecionador tem peças muito pessoais como o bilhete de identidade e a cédula pessoal de Cesária Évora, que acredita terem sido subtraídas da casa e vendidas a Francisco Rocha.

"Foram desviadas e podem ter sido vendidas a ele, mas não acho que tenha sido a minha mãe", disse.

O objetivo do processo judicial é reaver as peças em causa e Janete Évora não acredita que este caso tenha solução fora da justiça.

Contactado pela agência Lusa, Francisco Rocha não se mostrou preocupado com a possibilidade do processo, adiantando que tem forma de comprovar que todas as peças foram adquiridas legitimamente.