"É um livro que fala sobre diversos caminhos, todos eles imperfeitos", disse José Luís Peixoto, explicando que a obra estará nas bancas no final de setembro, pouco antes de realizar uma nova viagem à Coreia do Norte, acompanhado um grupo de visitantes.

José Luís Peixoto revelou o seu novo trabalho na ilha do Sal, Cabo Verde, onde no domingo terminou o festival de Literatura - Mundo, de que foi curador.

"Fala sobre a viagem, mas também fala sobre proximidade, sobre a intimidade", disse o escritor, lembrando que estes não são temas inéditos nos seus livros.

"A viagem é algo que chegou à minha escrita há algum tempo e se impôs e também aconteceu na minha própria vida. A proximidade também é um tema que já trabalhei em outros livros", disse.

O escritor, que durante os anos de 1990 viveu em Cabo Verde, e que mantém com o país uma relação de grande proximidade, acredita que o novo livro "acaba por abrir portas para um possível livro sobre Cabo Verde".

"Sei que me espera no futuro um livro onde darei conta da relação que tenho com este lugar. Quem vem a Cabo Verde, quem cria laços com este país sabe do que estou a falar: é uma relação para a vida. Sei que não sou cabo-verdiano, mas também sei que Cabo Verde é um lugar muitíssimo especial para mim", afirmou.

Em outubro, José Luís Peixoto fará, como guia, uma nova viagem à Coreia do Norte, país onde já esteve várias vezes e de que resultou o livro "Dentro do Segredo", publicado em 2012.

"Esse livro fez com que criasse uma relação com esse país tão inusitado", disse, acrescentando que, no momento, olha "com muita apreensão" para as notícias que chegam diariamente da Coreia do Norte, com a tensão crescente com os Estados Unidos.

"Espero para ver", disse, adiantando que será acompanhado por um grupo de pessoas consideradas "grandes viajantes" e que já visitaram muitos lugares.

"A Coreia do Norte é um lugar para quem já viajou muito e que acaba por ter o interesse da História, da cultura e da própria sociedade, que é única", disse.

José Luís Peixoto explicou que, para entrar na Coreia do Norte, é preciso "um nível de conhecimento elevado", fundamental num país "onde há certos perigos que têm de ser considerados e que são neste momento muito sérios".

"Temos exemplos recentes de casos que seguramente queremos evitar a todo o custo", disse, numa alusão ao caso do estudante norte-americano detido e condenado a 15 anos de trabalhos forçados, por ter roubado um cartaz.

O estudante, de 22 anos, foi entretanto libertado, mas acabaria por morrer.

"Para visitar a Coreia do Norte é preciso o máximo de cuidado, aceitando as condições que nos são oferecidas", disse, ressalvando, contudo, que as notícias que chegam da Coreia do Norte "são, em muitos aspetos, especulativas".

"Acabam por ser interpretações à luz das referências de cada um. O que é menos claro é que essas especulações e interpretações nos são apresentadas como verdades inquestionáveis e, nessa medida, há alguns equívocos que contribuem muitas vezes para que existem ideias que me parecem erradas", disse.

"Ainda assim há aspetos inequívocos: a Coreia do Norte é uma ditadura feroz, com valores completamente contrários aos nossos valores mais essenciais", acrescentou.