A Inteligência Artificial (IA) generativa será capaz de escrever argumentos para filmes e livros de alguns géneros, como "thrillers e ficção científica", afirmou o autor Salman Rushdie numa entrevista à revista literária francesa NRF, publicada esta quinta-feira.

"O problema é que estas criaturas aprendem muito depressa. Acredito que é mais preocupante para a literatura de género, como 'thrillers' ou ficção científica, onde o que interessa não é a originalidade da voz ou da linguagem", disse o escritor anglo-americano.

"O mesmo aplica-se para os argumentistas. Como Hollywood está constantemente a criar novas versões do mesmo filme, a Inteligência Artificial poderia ser usada para redigir argumentos", acrescentou.

No entanto, o autor de "Os Versículos Satânicos" acredita que os escritores não devem utilizar a IA, nem devem preocupar-se com possíveis imitações.

Ele explicou que percebeu isso com um texto escrito pelo ChatGPT com a instrução "200 palavras no estilo de Salman Rushdie".

"O resultado foi uma quantidade de parvoíces. Nenhum leitor que tivesse lido uma única página minha poderia pensar que eu era o autor. Bastante tranquilizador", avaliou.

"O sistema contenta-se em assimilar enormes quantidades de texto e apresentar uma nova versão. Nenhuma originalidade pode ser encontrada. Também parece carecer completamente de sentido de humor. São grandes lacunas", explicou.

Rushdie vive desde 1989 sob ameaça de morte após o Irão emitir uma 'fatwa', ou édito religioso, contra ele por seu livro "Os Versículos Satânicos", considerado uma blasfémia por Teerão.

Em agosto de 2022, um americano de origem libanesa, suspeito de simpatizar com o Irão, esfaqueou Rushdie durante uma conferência literária em Chautauqua, perto de Nova Iorque. O escritor ficou gravemente ferido e perdeu a visão de um olho.