O cineasta espanhol Pedro Almodóvar não irá promover o seu novo filme, "Julieta", anunciou a sua produtora, em reação ao escândalo dos chamados "Panama Papers", em que o nome do realizador aparece entre o de outras personalidades.

"Diante da prioridade de informação a temas alheios a 'Julieta', decidimos cancelar o photocall e o junket previstos para amanhã em Madrid", informou a produtora dos irmãos Pedro e Agustín Almodóvar em comunicado.

Logo a seguir, o irmão do cineasta tranquilizou os jornalistas no Twitter: "Atenção às pessoas preocupadas com a promoção de 'Julieta'. Cancelámos um photocall pela pressão que sofremos. Mantemos as entrevistas".

A apresentação de "Julieta" estava prevista para quarta-feira, dois dias antes da sua estreia na Espanha.

O filme, protagonizado pelas atrizes espanholas Emma Suárez e Adriana Ugarte, narra a história de uma mulher cuja filha vai embora inexplicavelmente de casa ao fazer 18 anos e não dá sinal de vida durante uma década.

O tom do irmão de Almodóvar é diferente do adotado quando foi conhecido o escândalo, quando ameaçou processar todos os meios que insinuassem qualquer ilegalidade.

O escândalo "Panama Papers" veio à tona no domingo, quando um grupo de jornais internacionais divulgou mais de um ano de pesquisas sobre 11,5 milhões de documentos roubados ao escritório de advogados Mossack Fonseca no Panamá, que revelariam a suposta evasão fiscal levada a cabo por políticos, atletas, artistas e empresários.

Entre as personalidades citadas figuram amigos do presidente russo Vladimir Putin, o cunhado do chefe de Estado Xi Jinping, o primeiro-ministro da Islândia Sigmundur David Gunnlaugsson - que renunciou por causa do escândalo -, o jogador de futebol argentino Leo Messi e os irmãos Almodóvar.

Segundo o jornal on-line espanhol El Confidencial, que publicou parte dos documentos, os Almodóvar eram donos de uma empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas em 1991, embora não sejaa claro se a sociedade chegou a ter algum capital.

"Desde os primeiros momentos da criação de El Deseo [produtora], Pedro e eu repartimos as tarefas e obrigações de uma forma muito clara. Eu fiquei encarregado de todos os assuntos referentes à gestão da empresa, e ele dedicou-se a todos os aspetos criativos", afirmou Agustín Almodóvar em comunicado.

Agustín reconheceu que a empresa foi criada "por causa de uma possível expansão internacional" da sua produtora de cinema.

"Deixámos a sociedade sem atividade morrer porque não se encaixava na nossa forma de trabalhar", acrescentou.

"Lamento profundamente o dano à imagem pública do meu irmão, provocada única e exclusivamente pela minha falta de experiência nos primeiros anos de caminhada da nossa empresa familiar", afirmou.

E assegurou: "Tanto o meu irmão Pedro como eu, assim como a nossa produtora, estamos em dia com todas as nossas obrigações tributárias".