Roger Moore morreu esta terça-feira na Suíça, após "uma curta mas corajosa luta contra o cancro", anunciaram os seus filhos. Tinha 89 anos.

"É com o coração pesado que anunciamos a morte do nosso querido pai, Roger Moore, depois de uma curta mas corajosa batalha contra o cancro. O amor com que ele nos rodeou nos seus últimos dias foi tão grande que não pode ser quantificado em palavras", pode ler-se no comunicado divulgado pela família.

"Sei que o nosso próprio amor e admiração vai ser ampliado muitas vezes por todo o mundo por pessoas que o conhecem pelos seus filmes, pelo seu trabalho na televisão e pelo seu trabalho na UNICEF, que é uma das suas grandes conquistas", acrescenta o texto divulgado pelos filhos.

O texto refere também que Moore continuou a receber carinho do público até à sua última interpretação nos palcos londrinos do Royal Festival Hall em 2016.

Os filhos deixam ainda no texto uma mensagem de despedida ao pai: "Obrigada pai, por seres tu próprio e por seres tão especial para tantas pessoas".

O funeral vai ser uma cerimónia privada no Mónaco, onde Moore também passava muitas temporadas.

Primeiro Santo, depois Bond

Foi para todos o protótipo perfeito do “gentleman” britânico, que nunca perde a compostura nas mais inconvenientes situações, nunca desalinha um fio de cabelo nas mais desvairadas cenas de ação e nunca perde o sentido de humor por mais bizarra que seja a situação em que se encontre.

Londrino de classe média, Moore, nascido a 14 de outubro de 1927, estudou seis meses na Royal Academy of Art, onde foi colega de Lois Maxwell (a futura Miss Moneypenny da série de 007), mas optou por deixar os estudos e perseguir imediatamente a carreira de ator.

No cinema, conseguiu um contrato de sete anos com a MGM, mas a época dourada dos estúdios de Hollywood estava a terminar e ainda não foi aí que o estrelato lhe bateu à porta, apesar de papéis secundários em filmes como “A Última Vez que Vi Paris”, ao lado de Elizabeth Taylor, “Melodia Interrompida”, com Glenn Ford, e “O Ladrão do Rei”, com Ann Blyth.

O seu primeiro papel principal chegaria já na Warner Bros, em 1959, com “O Cântico da Carne”, um drama passado nas Guerras Napoleónicas em par romântico com Carroll Baker, mas foi o extenso trabalho que por essa altura começou a fazer para a televisão que lhe trouxe finalmente o sucesso.

Foi como o cavaleiro protagonista da série "Ivanhoe" (1958 e 1959) que primeiro ganhou popularidade.

Seguiu-se o aventureiro Silky Harris no western “The Alaskans” (que Moore considerava a pior série de TV da sua carreira) entre 1959 e 1960, e o primo britânico do jogador Brett Maverick na quarta temporada do muito popular “Maverick”, entre 1961 e 1962.

Tornou-se finalmente uma grande estrela com o papel de Simon Templar, da série televisiva “O Santo”, que protagonizou entre 1962 e 1968.

Baseado nos romances de Leslie Charteris, o personagem era uma espécie de Robin Hood dos tempos modernos, que só roubava os criminosos, e que era implacavelmente perseguido pelo Inspector Claude Teal, que não o distinguia de um qualquer criminoso comum.

A série foi um êxito enorme em todo o mundo, com Moore de vez em quando a dirigir-se diretamente aos espectadores, e foi transitando paulatinamente de uma série puramente policial para uma saga com contornos de aventura de espionagem, bem ao sabor da moda da época, criada pelo grande sucesso dos filmes de James Bond no cinema.

"O Santo" foi a sua grande "audição" para outro papel, já no cinema, com o qual será sempre identificado por outra geração: o do famoso agente secreto 007 com licença para matar.

O salto de Templar para James Bond tornou-se lógico para todos assim que Sean Connery assumiu o seu interesse em deixar a personagem em 1966, só que as agendas tardaram em permiti-lo: Moore estava preso à série (de que chegou também a ser produtor) quando foi necessário escolher um primeiro substituto para Connery, por isso acabou por ser escolhido o australiano George Lazenby, que não caiu no goto dos espectadores.

Para corrigir o erro, os produtores de 007 ofereceram uma quantia milionária a Connery para fazer mais um filme da saga em 1971, “007 - Os Diamantes são Eternos”, o que permitiu que Moore co-protagonizasse com Tony Curtis a série de aventuras “Os Persuasores” entre 1971 e 1972.

Finalmente, com Connery definitivamente fora de cena, Roger Moore assumiu finalmente o papel em 1973, com “007 - Vive e Deixa Morrer” e nele permaneceu 12 anos, o mais longo período de tempo de qualquer ator com a personagem.

O primeiro filme ainda foi de transição, tematicamente próximo dos que fizeram a popularidade de Connery, mas a partir de "007  e o Homem da Pistola Dourada" notam-se as mudanças: menos cinismo e mais humor.

A violência, por sua vez, iria resvalar para a paródia, que se cristalizaria completamente no seu terceiro filme na pele do agente secreto com ordem para matar: “007 Agente Irresistível” foi um sucesso esmagador e fez renascer a saga, agora em equilíbrio por vezes instável entre o humor e a acção e com sequências de ação cada vez mais delirantes.

Neste período, Roger Moore fez 13 outros filmes, mas os mais recordados são "Os Gansos Selvagens" (1978), "Fuga para Atenas" (1979) e "A Corrida Mais Louca do Mundo" (1981). Foi ainda muito criticado por fazer três filmes na África do Sul durante o regime do Apartheid.

Nos anos 80, Moore, que já se tornara o mais velho a interpretar Bond, com 45 anos, surge já visivelmente cansado para as exigências físicas da personagem: a sua despedida com "007 - Alvo em Movimento", já com uns embaraçosos 58 anos, resume na perfeição a injecção cada vez maior de humor e auto-paródia desses filmes que se tornavam cada vez mais inverosímeis.

Após a reforma como 007, rico, Roger Moore passou a dedicar-se principalmente ao seu trabalho enquanto embaixador honorário da UNICEF, por sugestão de Audrey Hepburn.

Os primeiros filmes após Bond, as comédias "Fogo, Gelo e Dinamite" (1990) e "Os Profissionais do Golpe" (1990), esta ao lado de Michael Caine, não deixaram boas recordações. O seu último trabalho relevante no cinema foi em "Em Busca da Cidade Perdida" (1996) e embora o filme com Jean-Claude Van Damme tenha sido apenas um modesto sucesso comercial, as reações foram bastante elogiosas à sua interpretação em tom de comédia.

Vídeo: Agência Lusa

Veja na próxima página as reações à morte do ator.

As reações à morte

Depois da notícia da morte de Roger Moore, foram muitos os nomes conhecidos do entretenimento que quiseram prestar-lhe homenagem nas redes sociais.

Os Duran, Duran, que fizeram a canção para "007 - Alvo em Movimento" (1985), o último filme de Moore como agente secreto, recordaram precisamente o filme em que se cruzaram.

O ator Russell Crowe, recordou o quanto o adorava.

Mia Farrow, também uma ativista, não esqueceu essa faceta de Roger Moore: "Poucos são tão gentis e dedicados como foi Roger Moore. Sentimentos de carinho para a sua família e amigos. A UNICEF também sentirá a sua falta.

Edgar Wright foi dos primeiros a reagir. "O meu primeiro Bond e um dos primeiros atores que adorei enquanto criança", disse no Twitter.

O compositor Andrew Lloyd Webber‏ dirigiu-se à família, a quem deixou o seu amor.

A matriarca da família Kardashian também deixou as suas condolências à família do ator.

Piers Morgan partilhou no Twitter: "Oh, não, Como se hoje já não fosse triste o suficiente. RIP Sir Roger Moore, 89. Um ator maravilhoso & um homem adorável."

Rob Zombie também expressou num tweet a sua tristeza pela morte do 007.

Boy George apelidou-o de "rei do cool".

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