A atriz de 68 anos, vencedora de três Óscares, está sob ataque pela negativa insistente a qualquer conhecimento sobre a conduta do magnata do cinema Harvey Weinstein, acusado de passar a carreira a assediar, abusar, intimidar e violar mulheres.

Streep trabalhou em várias produções de Weinstein e referiu-se a ele como "deus", em tom de brincadeira, durante os Globos de Ouro de 2012.

Uma das maiores atrizes de sua geração, a norte-americana tem uma brilhante carreira de 40 anos na qual interpretou desde uma sobrevivente de um campo de concentração nazi a uma mãe cantora de ABBA.

Obteve a primeira de um recorde de 40 nomeações ao Óscares em 1979 e ganhou a estatueta em três ocasiões, a última em 2012 pelo papel como a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro", distribuído pela empresa de Weinstein.

O seu ativismo político chegou às primeiras páginas quando, no seu discurso ao receber um prémio honorário nos Globos de Ouro, denunciou Trump, ganhando elogios e algumas críticas.

Quando veio à tona o escândalo sobre Weinstein, no início de outubro, confessou estar "horrorizada" pelas denúncias "desonrosas" sobre as quais assegurou na ocasião não ter ideia.

Mas nem todos aceitaram esta versão, particularmente os ativistas do movimento nas redes sociais #MeToo, contra o abuso sexual, que chegaram à conclusão de que os mais próximos do produtor sabiam do seu comportamento e decidiram ignorá-lo.

"Hipocrisia"

Rose McGowan, que alega ter sido vítima de Weinstein e é uma das principais ativistas contra ele, criticou a atriz pela intenção de se vestir de preto num "protesto silencioso" nos Globos de Ouro.

"O TEU SILÊNCIO é O PROBLEMA", escreveu no Twitter, num post que depois apagou. "Desprezo a tua hipocrisia".

Streep respondeu na segunda-feira num comunicado, enviado ao Huffington Post, no qual insistiu desconhecer a conduta do influente produtor, investigado pelas polícias de Nova Iorque e Los Angeles.

"Não guardei silêncio deliberadamente. Não sabia, não aprovo a violação", disse.

O texto não conseguiu apaziguar as críticas contra ela. Pelo contrário: esta semana surgiram dezenas de cartazes em Los Angeles, acusando Streep de facilitar as ações de Weinstein, que afirma que todas as relações sexuais foram consentidas.

Sabo, um artista de rua de 49 anos e ex-membro dos Marines, fuzileiros navais dos Estados Unidos, assumiu a autoria destes cartazes nos quais Streep aparece sorridente ao lado do produtor e sobre seus olhos, uma faixa vermelha, diz "Ela sabia".

Ele explicou que a campanha é uma represália à atriz por utilizar o seu filme mais recente, "The Post", de Steven Spielberg, para atacar Trump, que também foi acusado de abuso sexual por 16 mulheres.

Porquê ela?

O colunista de entretenimento Ira Madison III escreveu que acha que Streep diz a verdade e que os ataques pelo caso Weinstein não são mais que uma manifestação de machismo do showbiz.

"Aqui estamos nós a atacar uma mulher por algo que talvez soubesse ou não, quando todos insistem em que todos na indústria sabiam", lançou.

"Porque é que George Clooney ou Brad Pitt não foram atacados tão agressivamente como Streep? Porque não Bob Weinstein, o seu próprio irmão, que tem se saído relativamente ileso da queda de Harvey?".

Mas o público não parece dar o benefício da dúvida à atriz.

Jeetendr Sehdev, especialista na imagem das celebridades, recolhe duas vezes por ano a opinião de 2000 pessoas ao acaso nos Estados Unidos para falar sobre os ricos e famosos como parte de um estudo que iniciou em 2012. Sehdev disse que 58% dos consultados em outubro sobre o caso Weinstein manifestaram repúdio à atriz.

"As afirmações de Streep de que ela não sabia [de Weinstein] são ridículas e um beijo da morte para a sua imagem em Hollywood", disse à AFP o bem sucedido autor do livro "The Kim Kardashian Principle".

O escritor acusou a atriz de subestimar a inteligência do público e a coragem demonstrada pelas suas colegas que denunciaram Weisntein, ao mesmo tempo em que disse que Clooney também tem explicações a dar.

"Muita gente acha que Weinstein procurava os seus amigos mais próximos para ver se podiam falar a seu favor e tentar reduzir os danos. Streep e Clooney eram parte desse pacto?".