O realizador Tran Anh Hung, célebre por "O Odor da Papaia Verde", dá vida à uma mistura de reminiscências, nostalgia e uma declaração de amor à família que passa pela personagem de Audrey Tautou em "Amor Eterno", que estreia esta quinta-feira nas salas portuguesas.

À atriz junta-se um elenco de outras grandes estrelas do cinema francês (Mélanie Laurent, Bérènice Bejo, Jérémie Renier) para dar vida a estes vai-e-vens no tempo.

O SAPO MAG conversou com o cineasta de ascendência vietnamita radicado em França sobre o seu estilo muito característico.

Nos seus filmes gosta de circunscrever os seus personagens em ambientes fechados, onde muito pouca informação vem do mundo exterior...
"Amor Eterno" é um filme sobre a passagem do tempo e a sensação pungente que daí resulta. Tudo parece ser visto de uma distância no tempo de recordação, onde todos os detalhes são apagados e apenas momentos raros sobrevivem na memória dos personagens. São esses momentos que o filme mostra. Mesmo as duas guerras mundiais se desvanecem enquanto os rostos dos seus entes queridos continuam a nutrir os sentimentos de parentes como a presença de uma fotografia num álbum. O meu objetivo é que o filme, pela ausência das cenas e histórias clássicas, consiga mover o espectador de uma maneira muito íntima. O filme deve fazer retornar o espectador à sua própria experiência como uma filha, filho, mãe, pai, na relação pai-filho, no que é mais essencial, despojado de contingências psicológicas.

Em "Amor Eterno" faz um “retrato de família” baseado no livro de Alice Ferney. Porque decidiu abordar esta questão? Como surgiu a ideia?
Li o livro e gostei. Foi profundamente comovente, estava em lágrimas enquanto o lia. A história desta família muito grande tocou-me de uma maneira muito pessoal já que a minha própria família é muito pequena. Por causa da guerra do Vietname, só conheci os meus pais e o meu irmão mais novo. Nunca ouvi uma história sobre o meu pai quando ele era jovem contada pelos meus avós, por exemplo. Então, achei muito aliciante lidar com essa história da família de Alice Ferney.

Não usa as convenções de narrativas de causa e efeito e, portanto, recusa o efeito dramático do “storytelling” tradicional para criar outro tipo de abordagem ...
O fator determinante que me fez decidir adaptar este livro foi que me sugeriu uma forma interessante de cinema, que me desafiou. Com esta ideia de passar o tempo, vi a necessidade de ir muito rápido de uma emoção para outra – de mostrar morte, casamento, nascimento em dois minutos. Também adivinhei que essas sensações colocadas em camadas iriam produzir uma emoção muito complexa que era desconhecida para mim em filmes. Esse era o desafio. E, porra, fiz!

Cria um mundo que leva o espectador praticamente a sentir dentro dele ... Um aspeto muito especial dos seus filmes, por exemplo, é o design do som. Como é o seu processo de criação visual e sonora?
Comparando com os meus outros filmes, a edição de som deste filme não era interessante, mas difícil. Neste caso, o som não funcionou nem como uma forma de musicalidade que apoia a banda sonora usada no filme. E tudo isso porque não há cenas no filme, então não há tempo para o som se desenvolver. Só temos que ir de um som a outro seguindo o fluxo da imagem correndo como a água para expressar o tempo passando. Já a música era importante neste filme. O meu editor e eu descobrimos que ela aqui conta a história, acrescenta o que falta na forma do filme.

"Amor Eterno" tem um elenco de grandes nomes. Como foi, em termos de produção, reunir estes atores?
Essas atrizes e atores foram absolutamente incríveis. Foi um puro prazer vê-los dando mais do que esperava. Desde o início aceitaram um pequeno salário para dar uma hipótese à realização do projeto.

Já tem novos trabalhos em vista?
Sim, muitos! Mas qual deles se tornará um filme? Só Deus sabe. Quanto a mim, gostaria de fazer um filme japonês!

Trailer de "Amor Eterno".

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